Quando a noite cai, muitos pensamentos me assaltam, vindas de um ponto ao qual não ouso identificar. De um lado, um sentimento de urgência, faz com que me debruce por sobre páginas e páginas de Ordens Santas que existem ou outras que deixaram de existir. Esta sensação me atrapalha o sono e me empurra, sem compaixão para o papel e a caneta… E começo a escrever.
No início nada me parece claro, então paro… Paro para rapidamente reiniciar. Sou resistente ao extremo ao influxo destas ordens interiores. Estas que vêem de um ponto que não ouso identificar, mas que intimamente sei de onde vêem.
Por outro lado, outro sentimento, qual seja o de ternura, atenua o movimento urgente. Parece que o mundo por alguns momentos, esqueceu-se de mim e eu posso, no resvalar da impessoalidade serenar o traço e escrever, apenas escrever. O sono é conciliado e, pensando no amanhã tomo parte na dança da noite de lua cheia, e durmo, durmo…
Nesta noite, e quem sabe em quantas outras, ás quais simplesmente não recordo, nesta noite enxergo por detrás de grandes janelas pintadas (seriam vitrais?) uma estrela, uma Estrela e grito simplesmente que Vi! Eu vi a Estrela que ostenta na fronte o nome do Indizível, do Inominado.
Noto, ao meu lado, observando atentamente, alguns bons Homens, munidos cada um com uma alavanca. Percebo então, em minhas mãos, uma outra Alavanca. No imenso salão que ocupamos, no lado de disco solar, vejo um outro ser humano, porém muitíssimo mais novo do que todos nós, ocupando um trono.
Abandonando este Trono que ocupava, desce lentamente os degraus (serão 3 ou 7 ou ainda 10 degraus?) e caminha em nossa direção.
Em suas mãos balança suavemente uma rosa vermelha quase de maneira desdenhosa. Próximo á nós, olha-nos nos olhos e, sem pronunciar palavra, desenha uma letra no ar, que tomando uma cor escarlate, deixa um rastro de fogo. E a Estrela então se apaga…
No escuro sinto desejo de deixar-me cair ao chão, entretanto mãos me seguram e deitam-me carinhosamente num caixão. Não estou morto penso eu, você esta morto, dizem muitas vozes.
Por um momento, enxergo outros clarões, aqui e acolá, dando início à uma história que não entendo, pois a língua usada não me é familiar. Sonho dentro do sonho e estou em pé, segurando uma alavanca, que finco firmemente por sob uma grande rocha. Faço, exerço força, aplico Vontade até que, do interior brota a exata percepção de que ocupo os dois lados da alavanca sagrada. Sou Eu que exerço e aplico força e vontade num dos lados, porém na outra extremidade, sou eu adormecido e inacabado.
Tal percepção é uma revelação, penso eu e, cada vez que penso, a percepção se esvai, no sonho. Ao deixar livre a percepção ela se faz forte. Diz-me que não deixe a razão falar, que apenas sinta com o coração esta nova dimensão, esta dupla condição de movimento e inércia, de vida e morte, de clareza e confusão, do que movimenta e daquele que é movimentado.
Ao deixar-me ao acaso, a rocha na ponta da Alavanca já não pesa e sinto que se move de maneira rápida. Sou o movimento e a capacidade de movimentar! Assim que esta percepção se torna parte de mim, acordo e me encontro dentro de um caixão! Lembrei-me então que havia sido ali deitado antes do sonho no sonho.
Agora as vozes eram claras e eu entendia perfeitamente a história que estava sendo contada. Sem mais demoras fui de lá removido e alegre percebi que o Sol havia nascido e ocupava o centro da Rosa, na mão do Menino.
Acordei e, suavemente, abri a janela para observar a Lua Cheia, que ainda voava pelo céu escuro da madrugada. Restou apenas, em minhas mãos, uma Alavanca…
MARCELO MARSIGLIA SIDOTI
M.’.M.’., Loja Ypiranga 83 – Cruz da Perfeição Maçônica, Brasil