Embora hoje saibamos que o mundo é fisicamente diferente daquele que era conhecido por nossos ancestrais, ainda assim aquela inspiração inicial de nossos primeiros irmãos continua e continuará verdadeira.
Parece-me que a idéia central dessa inspiração é que se o Homem tem o propósito de construir seu próprio Templo Interior, ou se ele está disposto a construir uma sociedade justa e duradoura nessa justiça, então ele deverá estar iniciado nas leis e princípios que regem o Universo no qual ele vive. E para isso, o Homem necessita não apenas de sabedoria, que deve ser desenvolvida, mas também da ajuda de Deus, que é o G:.A:.D:.U:.
Bem por isso em nossas Lojas Maçônicas está o Altar – mais antigo que qualquer Templo, e tão antigo quanto a própria vida mesma. Um foco de fé e união. Um símbolo sagrado daquele pensamento inicial que inspirou a nossa Arte Real. Um símbolo sagrado da existência do G:.A:.D:.U:.. Um símbolo sagrado de nosso propósito de erguer Templos à Virtude e cavar masmorras ao vício.
Nada há de mais impressivo na face da Terra que o silencio de uma reunião de seres humanos curvados diante de um Altar. O instinto que faz com que Homens se reúnam para orar é a mesma força invisível que move Homens a desbastar pedras para construírem templos que corporificam o mistério de Deus.
Até onde conhecemos, o Homem é o único ser em nosso planeta que pára para rezar. E a beleza desse ato nos diz mais sobre nós do que qualquer outro. Por uma profunda necessidade natural, o Homem procura Deus, e em momentos de tristeza ou angústia, ou em momentos de tragédia e terror, ou ainda em momentos de sincera gratidão e felicidade, o Homem deixa de lado suas ferramentas de trabalho e olha para o horizonte. E sem perceber, acaba por fixar seu olhar num ponto mais elevado do relevo que está adiante. Talvez tenha nascido aí o termo Altar, substantivo masculino proveniente do latim altare, que por sua vez derivou do adjetivo latino altus (alto, elevado, levantado).
A partir de elementos como estes, podemos começar a perceber o significado do Altar dos Juramentos na Maçonaria, e a razão de sua posição na Loja.
Na Maçonaria primitiva, não havia o Altar dos Juramentos, já que as Luzes da Loja (L:. da L:., Esq:. e Comp:.) ficavam sobre o Altar do V:.M:., onde também eram tomados os juramentos. Posteriormente, em alguns ritos, criou-se uma mesa auxiliar, considerada como extensão do Altar do V:.M:.. Tal costume deu origem ao Altar dos juramentos, que originalmente, portanto, ficava no Oriente, embora algumas Obediências o tivessem levado para o centro da Loja, em desacordo com suas origens,
segundo Castellani (3).
Na maioria dos ritos, o Altar dos Juramentos está posicionado no Oriente, defronte ao Altar do V:.M:.,. No Rito de York, porém, o Altar dos Juramentos está posicionado sobre o Pavimento Mosaico, no centro da Loja. No R:.E:.A:.A:., sua posição original é no Oriente. Posteriormente, no ritual editado em 1980 (4), o Altar foi posicionado no centro da Loja. O ritual de 1998 e o atual, de 2001 (5), fizeram o Altar dos Juramentos retornar ao seu posicionamento original, no Oriente, defronte ao Altar do V:.M:. (6).
Embora paire divergência entre os autores consultados acerca da localização em Loja e do formato que deve ter, fato é que todos concordam que o Altar dos Juramentos não é simplesmente uma peça imprescindível no mobiliário maçônico. Muito mais do que isso, ele identifica a Maçonaria como uma instituição de cunho religioso.
A Maçonaria não é uma religião, mas é religiosa em sua fé e seus princípios básicos, em seu espírito e em seus propósitos. A Maçonaria não é uma religião, muito menos uma seita, mas um culto em que todos os homens podem se unir porque ela não pretende explicar, ou dogmaticamente estabelecer, o que ou quem é deus. Maçonaria e religião andaram juntas até esta última ingressar no feudo do sectarismo. A Maçonaria pretende unir homens, e não dividi-los.
Assim, o Altar dos Juramentos é um altar de fé – profunda e eterna fé que está na base de todo e qualquer credo religioso. Fé num Criador que é a pedra angular e a chave para compreensão de tudo. Fé sem a qual a vida se torna adivinhação e fraternidade se torna futilidade.
O Altar dos Juramentos exorta sentimentos natos de respeito ao Criador, conduzindo o Maçom a se tornar o operário trabalhador e consciente, cujo labor de aperfeiçoamento moral e espiritual resultará no engrandecimento da Ordem em geral e no bem-estar de toda a Humanidade em particular (8).
Cícero D:., A:.M:.
A:.R:.L:.S:. Luz da Acácia – Nº 2586 – Or:. de Jaraguá do Sul (SC), Brasil
NOTAS:
(2) O Ritual do R:.E:.A:.A:. editado pelo GOB em 2001, p. 158 também nos dá a indicação de que a origem de tudo provém do Oriente, e que a lei e ordem presentes no Oriente devem se estender ao resto do Universo: “VEN:. – Por que o Templo Maçônico está situado do Oriente ao Ocidente? 1º VIG:. – Porque assim estão situados todos os Templos, pois o início da vida aconteceu no Oriente, estendendo-se ao Ocidente, e assim será até o fim dos Tempos.” (sublinhas minhas).
(3) CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçônico. 1ª ed. Editora Maçônica A Trolha: 1990. n 8, p. 30-31.
(4) Classificado como “horrível” por Castellani, conforme se pode verificar em https://seguro002.ifxweb.com.br/lojasmbr/consu3a/respo497.htm
(5) Vale notar que o Decreto do GOB n. 467, de 24 de abril de 2001, que “aprova e determina a aplicação do Ritual do 1º Grau – Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e
Aceito, Edição 2001” menciona expressamente em seus considerandos que “o Ritual do 1º Grau, Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e Aceito sofreu, ao longo do tempo, mudanças e acréscimos que o tornaram distante das suas origens” e que “a edição de 1998 do aludido Ritual, procurou imprimir correções e ajustes, sem alcançar entretanto, a excelência desejada”.
(6) Segundo o Ritual do R:.E:.A:.A:. editado pelo GOB em 2001, p. 4, “no centro do Oriente, entre os degraus do Trono e a balaustrada, fica o Altar dos Juramentos, que é uma pequena mesa triangular ou uma pequena coluna de um metro de altura, com caneluras e truncadas, em cima da qual ficam o L:. da L:. (Bíblia), um Esquadro e um Compasso”.
(7) CAMINO, Rizzardo da. Dicionário maçônico. Madras: São Paulo, 2006. p. 37.
(8) MONDEN, Ilson. O altar dos juramentos. In. A TROLHA, n. 231, janeiro/2006. p. 29.
REFERÊNCIAS:
– Ritual do R:.E:.A:.A:. editado pelo GOB em 2001
– CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçônico. 1ª ed. Editora Maçônica A Trolha: 1990. n 8