AS PORTAS DO TEMPLO

Quando adentrei a maçonaria me fizeram caminhar por caminhos diversos e diversas Portas…!

Durante muito tempo sempre fiquei a procurar as três portas do templo comentadas e com citações, algumas pueris, outras fantasiosas em demasia, enfim, onde estão estas portas?

No caráter físico arquitetônico, a primeira que me lembro, foi quando me desvendaram os olhos no templo, em minha iniciação; e, então, fui levado por uma delas a me recompor com meus trajes “profanos” pelo irmão experto, que não sei se era muito esperto, pois este havia me deixado todo troncho (torto): meio descamisado, meia perna vestida e ainda por cima meio calçado, ou seja, um pé calçado outro não. Enfim, mais tarde compreendi. Todavia, as PORTAS, ninguém ainda me mostrou.

Procurei e tenho procurado sobre estas “famosas” três portas, que talvez por sua obviedade, sejam estas, simbolicamente simples ou completamente muito ricas a ponto de tecerem-se poucos comentários. Vejamos no Dicionário Ilustrado da Maçonaria de Sebastião Dodel dos Santos a pagina 170 e 171:

Porta – Em arquitetura, diz-se da peça de carpintaria que é colocada nas aberturas das paredes, ao nível do solo, com a finalidade de dar entrada ou saída.

Parece obviedade não! Mas, uma porta de incêndio no trecentésimo nono ou no primeiro andar não me parece ao nível do solo e é uma porta.

Portas (As três…) – No esoterismo maçônico significam a Sinceridade, a Coragem e a Esperança, virtudes necessárias à pesquisa da verdade.

Sem polemica ou polemizar, falta-me algo nesta dissertação.

Já ouvi, por diversas ocasiões, dissertações em loja, inclusive numa loja aqui em Garanhuns/PE., que esta porta era estreita e baixa e serviria para dar fuga aos irmãos (na época medieval) no caso da invasão pelos inimigos da maçonaria ao templo ou para punir os irmãos atrasados que por elas teriam que franquear.

Com todo respeito, data vênia, de todos amados irmãozinhos que assim se expressaram, acho porem, pueril e fantasiosa estas dissertações.

Ora, para servir à fuga, com muitos irmãos a fugirem por uma porta estreita e baixa, em desespero da fuga, é simplesmente uma loucura; ou, para “punir” os irmãos atrasados, bastaria simplesmente proceder a Entr.’.  Ritualística, TTrolh.’. e colocá-los como Ccobr.’. do Templo. É pueril e fantasiosa como disse, as afirmações acima. Porem! As portas em geral, têm seu caráter não só em fundamentos meramente arquitetônicos, mais também, em fundamentos simbólicos e filosóficos.

Eram as portas da cidade, no oriente próximo, bíblico, que se faziam todas as grandes transações, julgamentos, atividades comerciais de natureza cerimoniosa ou não, encontramos muitas referencias em Gênesis, Reis, Crônicas, etc., são também metáforas para diversas citações, inclusive bíblicas.

De Jorge Adoun, Papus, Nicolas Aslan e tantos outros, encontro em o mestre Jules Boucher – A Simbólica Maçônica – um comentário, seu, em que estar reproduzido um texto do mestre Plantageneta: “A porta do templo é designada pelo nome de “PORTA DO OCIDENTE”, o que deve fazer-nos lembrar que é em seu limiar que o sol se põe, isto é, que a luz se extingue, fora dali, reinam, portanto, as trevas e, conseqüentemente, o mundo profano”.

Ainda do mesmo autor: “Pensa-se sempre que o profano não pode entrar no templo a não ser passando por uma porta estreita e baixa que ele não poderia franquear sem se curvar”. E representaria um nascimento.

Comenta ainda Jules Boucher:
“Corroboro ao que diz, o mestre Plantageneta, pois na pratica certas lojas, há muito anos, renunciaram a esse método, mostrando assim a desfiguração da não utilização dum acessório de tanta riqueza simbólica, psicológica e filosófica, é esta luz, que nos difere do mundo profano”. (Grifos meus).

Certamente, eu imagino, imaginemos nós, passarmos por uma porta de dimensões (estreita e baixa) tão inusitadas e inesperadas, que o porá de joelhos. Esta sensação incorporar-se-á ao imaginário mental para as futuras viagens, preparando desde logo, o neófito, singularmente, à que a iniciação se proceda sob forte impactos, não para causar medos, mais tão somente os receios necessários que exponha sua refratariedade latente ou a sua curiosidade “intencional” de angariar benesses da ordem.

Por isso, eu acredito, que Jules Boucher, em seus comentários, enfatiza tanto o caráter psicológico agregado tanto ao simbolismo, quanto ao filosófico para todas as iniciações. Eu sempre vi com certa apreensão, o descaso com que se praticavam, e atualmente se pratica, as iniciações e como se processam as reuniões. Por isso sou radicalmente favorável a uma cobrança severa do cumprimento ritualístico, tanto quanto o simbólico.

Vejo ainda, com pesar, lojas abertas sem o menor cerimonial e sem o prévio trabalho pelo arquiteto do templo de incensá-lo, deixando-o rico em sua aura para os irmãos que ali se reunirão. É pouquíssimo ou quase nunca praticado. Na verdade ou atualidade o templo mais parece uma sala de reunião para o agrupamento de “irmãos” que farão alguns “atos de momices” (ao vulgo profano) e depois, apressados, irão tomar umas cervejas. Isto sim, esta pressa, isso é o que vulgariza e acaba a motivação. Pergunto, adentra-se a algum templo de quaisquer religiões ou seitas, com predisposição de sair-se logo?

É a arte Real do simbolismo, do filosofisismo e do ritualismo (luzes), que ao franquear aquela porta “inusitada” o neófito espera encontrar. Por excelência, o simbolismo será a chave mestra destas portas. O simbolismo quer seja figurativo, alegórico, emblemático, religioso, matemático, etc., é somente pelo ser humano apreendido, expressado e interpretado, tanto quanto, na qualidade figurativa, personificativa, metafórica ou em parábolas.

Vejamos alguns símbolos como: a tartaruga, a pomba, o coelho, que representariam, respectivamente, a vagareza, a paz, e a rapidez, para citar apenas estes que são bastantes conhecidos e facilmente interpretados e identificados. Outros, porem, terão que ser ministrados. Para isso, temos nossos rituais, cheios de alegorias e simbolismos.

Talvez, por vergonha, talvez por relaxamento ou simples desconhecimentos os aprendizes recebem seus salários totalmente incapazes, e daí elevam-se para companheiros incapazes e por fim, completa-se em se exaltando em incapazes mestres, segmentando ou colocando para dentro da loja (templo) suas “virtudes” profanas, quais: presunção, vaidades, mesquinhez, futilidades, falsidades, invejas e egoísmos, ou seja, faltam-lhes As três Portas da Virtude. Tudo, muitas das vezes, calcado na batuta (malhete) de vigilantes e veneráveis vaidosos e ociosos. Virtudes como tolerância, combate à ignorância, a prática da justiça e o amor ao próximo, passam a margem.

Porquê? Porque as instruções são lidas e não aplicadas. Como aplicar à régua? O cinzel? O maço? Talvez fosse fácil na forma operativa: peguem a régua e risquem a pedra bruta. Peguem o cinzel e sobre os riscos coloque-o, ponham-se em seguida com o maço a baterem neste, cortando o riscado, cinzelando-o. Será isto?

Simbolicamente entenderíamos como: Vamos ser retos em todas nossas horas (alinhamento da Régua), tanto ativos como passivamente (o corpo do Cinzel), apurando, aprimorando com todo peso e forças (do Maço) as artes que me são expostas, assim, criando beleza interior e exteriorizando a serviço do próximo e da humanidade, torna-nos de pedras brutas a pedras desbastadas, polidas, cinzeladas para AS SABEDORIAS DO APERFEIÇOAMENTO MORAL E ESPIRITUAL.

Enfim, arquitetonicamente o templo deveria ter três portas, a saber: a porta principal (no Ocidente), a porta dos fundos (Oriente) e a porta dos Neófitos, estreita e baixa.

SIMBOLICAMENTE SÃO INCOMENSURÁVEIS

Para finalizar, 2 x 2 não são prova apenas da multiplicação, pois o resultado 4 é a mesma coisa que 2 + 2; a distinção esta no simbolismo matemático de (x) ou (+) que dá a virtude da ação. Portanto ajamos!

É desconsiderando nossas tradições, nossos rituais, nossos simbolismos que fazem ou favorecem a iniciação de meros curiosos e oportunistas, elevando a evasão dos verdadeiros irmãos maçônicos.

Em dedicação a minha querida loja mãe Sphinx Paulistana no. 248 e a todos os seus membros, que muito me iluminaram, me iluminam e continuarão a iluminar-me.

Fernando G. N. Gueiros,
M.’.M.’., A.’.R.’.L.’.S.’. Sphinx Paulistana no. 248 – Or.’. de Garanhuns – PE, BRASIL.