Um guardião do segredo, do que é sagrado e cujos princípios e molduras do caráter são como a couraça de uma armadura que veste o guerreiro, empunhando a espada da verdade, apontada à escravidão da consciência, às paixões que nos tentam dominar e às vontades que devemos submeter, como cavaleiros que somos protegendo o caminho justo e perfeito que sob juramento e consagração, nos comprometemos a prosseguir, este é o sentimento do escocista, ao adentrar ao templo para mais uma seção maçônica
Tão importante quanto o sentimento, porém, é a gênese, raiz que como tudo na maçonaria, remonta a História da sociedade e neste caso em especial, a página triste e marcante que retrata o início do fim da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, ou mais notoriamente da Ordem dos Cavaleiros Templários.
Muito nebulosa é a interação entre maçonaria e Ordem Templária, entretanto com associações históricas fica muito nítida a influência desta ordem na Arte Real, ainda que pouca documentação tenha sido encontrada a este respeito, bem como sobre os próprios Cavaleiros do Templo e sua Ordem, visto ter sido destruído em 1571 o Arquivo Central dos Templários que se encontrava no Chipre além do Arquivo Angevino, incendiado na Segunda Guerra Mundial pelos Alemães, o qual contava com milhares de documentos datados de 1265 à 1435, inclusive sobre a Ordem do Templo. Alguns dos ósculos da barbárie.
Antes de nos atermos à derrocada dos templários, passagens desde a suposta data de fundação em 1096, data das primeiras cruzadas, são necessárias, pois até 1129 quando oficialmente aprovada pela Igreja Católica muito se especulou sobre o que faziam os Cavaleiros, além de dar proteção aos Peregrinos Cristãos que se dirigiam à Jerusalém. Especula-se que neste período de obscurantismo eles se dedicaram à busca do Templo de Salomão e o encontraram, bem como ao seu tesouro, que não apenas se traduziria em riquezas, mas, sobretudo em conhecimento, o que já se esperaria tratando-se Salomão do homem mais sábio desta terra.
Um tesouro desta grandeza não poderia passar despercebido e após um longo período onde a ordem experimentou grande acúmulo de poder e de riquezas, em 1307, impulsionados pela ganância, o Rei francês Felipe IV acusa-os de heresia apoiado pelo Papa Clemente V, iniciando uma perseguição que culminaria na queima de muitos cavaleiros nas fogueiras da Santa Inquisição, assim como na morte de seu último Grão Mestre em 1313, Jaques DeMolay, e é neste momento que começam a se entrelaçar os caminhos dos antigos pedreiros livres e a Ordem dos Cavaleiros de Cristo, mas especialmente no que concerne o REAA, pois neste ponto, conta a história que vários cavaleiros templários, para ocultarem-se do mal que absorvera seus pares se juntaram a várias associações da época, e muitos Imigraram para a Escócia, ficando sobre a proteção do Rei Robert de Bruce, que além de ter parentes Templários, havia sido excomungado em 1307 pelo Papa, o que relegaria algum distanciamento à Igreja de Roma e traria algum tempo de paz aos Cavaleiros do Templo.
Muitas lendas ligam o nome do Rei Escocês aos templários e à Maçonaria, entre elas está a de que ainda com receio de serem descobertos e considerados traidores, os Templários, devido ao seu grande conhecimento de arquitetura sagrada, visto que é incrível a beleza e quantidade de castelos templários verificados pela Europa, se uniram às corporações de ofício, assumindo certo disfarce, o de pedreiros.
Outra evidência forte desta interação é a criação pelo Rei The Bruce em 1314, da Ordem de Heredom de Kilwining, concedendo ao mesmo tempo o título de Grande Loja Real de Heredom de Kilwining à Loja de maçons já existente. Muito se passou e esta relação amadureceu e gerou frutos, tanto que em 1728 ocorre o que poderia ser a origem da tradição Templária na maçonaria, pois nesse ano um barão escocês de nome John Mitchell Ramsay trouxe para Londres um sistema de franco-maçonaria totalmente desconhecido, de cujas origens remontariam da época das cruzadas e sua instituição à Godefroy de Bouillon, Cruzado que em 1099 participou da tomada da terra Santa, mas mais curiosa ainda seria a estrutura deste sistema, que apresentava três graus: escoceses, noviços e Cavaleiros Templários com iniciações deste último acompanhadas de toda a pompa própria das cerimônias cavalariças.
Claramente então, da Escócia vem a influência Templária, mas porque então afirmativa dos estudiosos de que o REAA é um rito Francês? Tal explicação remonta da guerra civil Inglesa e da sucessão do trono, disputado pela Dinastia dos Stuart, de origem escocesa, cuja nobreza, além deles mesmos tinha íntimas ligações com a Maçonaria. Quando em 1649, Carlos I, Rei da Inglaterra é executado finda-se a era da casa de Stuart no trono Inglês, sua viúva Henriqueta Maria de França recebe asilo, com a companhia de nobres escoceses parentes de seu marido, na França. Estes nobres, segundo documentos posteriormente encontrados reuniam-se em lojas. Existe menção feita a Mestres escoceses nas Ordenações da Grande Loja de França em 1743. De fato, existem também registros sobre a formação da primeira Loja stuartista em Saint-Germain-en-Laye, em 1689 e já em 1717, quando do estabelecimento da maçonaria especulativa podia-se considerar um sistema Escocês, com ligações à Escócia através da Dinastia dos Stuarts. Assim nascia o Rito dos Stuart da Inglaterra e Escócia, primeira manifestação maçônica em terras Francesas, mesmo antes da fundação da Grande Loja de Londres em 1717.
Outra passagem importante acerca de nosso rito diz respeito ao termo Antigo e Aceito e sinaliza um importante momento histórico da maçonaria, pois aponta a fase em que convivem na ordem os operativos, antigos, e os especulativos, aceitos. Estes novos membros trazem à Maçonaria a visão de que a loja é um lugar de elevação moral e espiritual, onde a reflexão e ponderação permitiram vários séculos adiante a formação de maçons preparados para enquanto construtores sociais e cavaleiros na batalha em busca da verdade, perpetuar esta Arte Real que é nobre desde seu nascimento e guerreira em sua mais pura essência. Que o mundo não julgue que viemos aqui trabalhar inutilmente, gastando em vão nossas forças… Não o julgará V.´.M.´., é histórica a marca que a maçonaria deixa no véu da sociedade, sobretudo o REAA, um rito moral, espiritual e pautado na honra do cavaleiro, que dá seu coração à batalha e de pé e à ordem está para seus irmão e a quem mais necessitar de seus justos e perfeitos princípios.
Do livro As Sociedades Secretas, de Gianni Vannoni, uma pequena crônica sobre como teria sido o momento em que os Cavaleiros encontraram o Templo de Salomão:
“Vencidos os obstáculos, descobriram uma passagem oculta, só conhecida antes por iniciados nos mistérios e no fim dessa passagem, uma porta dourada onde lia-se as inscrições:
«Se é a curiosidade que aqui vos conduz, Retira-te».
«Se persistirdes em conhecer os mistérios da existência, fazei antes o vosso testamento e despedi-vos do mundo dos vivos.»Dessa forma, após muita hesitação, um dos cavaleiros bateu na porta dizendo: “Abri em nome de Cristo” e a porta abriu-se. Ao entrarem, encontraram entre figuras estranhas uma forma de estátuas e estatuetas, um trono coberto de seda e sobre ele, um triângulo com a décima letra hebraica, YOD. Junto aos degraus do trono, estava a Lei Sagrada “.
Wiliam F. Nogueira, M.M.
ARLS Wilton Cunha nº 144, Oriente de São João de Meriti (RJ) – Brasil