O conceito de Ética apareceu com a formação dos primeiros grupos humanos primitivos quando, para a sobrevivência de seus membros, era fundamental que todos agissem de modo a preservar a vida e a permitir a expressão das diversas necessidades, pessoais e coletivas.
A vida humana se caracteriza por condutas racionais que são a base da Ética: toda a ação é realizada de acordo com uma decisão mental anterior; o que não significa que todas as pessoas ajam de modo igual e racional, nem que as suas ações sejam sempre baseadas no raciocínio. Isto porque a conduta humana resulta de tensões e motivações de natureza emocional, afetiva, sentimental ou de impulsos biológicos.
Apesar disso, pode-se afirmar que a conduta do ser humano, além do fato de ser tomada racionalmente ou que seja provocada por motivações afetivas, sentimentais ou emocionais, é sempre o tipo de conduta que deve estar subordinada aos princípios da Ética. Por isso mesmo, o comportamento do ser humano está, ou deveria estar sempre, em conformidade com a sua razão. Este comportamento é diferente de tudo o que os impulsos ou as emoções inicialmente recomendam. Deste modo podemos assim definir a Ética como o resultado do controle mental sobre os mecanismos biológicos, caracterizados pela reação “estímulo-resposta”.
Por outro lado, deve-se ressaltar que a criança não nasce com o conhecimento inato da Ética. Este conhecimento é adquirido pelo aprendizado, pela educação, de modo a desenvolver a sua capacidade de escolha e, assim, passar a se comportar de maneira racional, tendo como base os valores e princípios Éticos aos quais ela está exposta em sua vida em sociedade.
Ético, enfim, é todo o comportamento racionalmente escolhido e que, sem uma aprendizagem ética eficaz, tendo como base que a conduta do ser humano não pode ser regulada pelos seus impulsos biológicos. Em um ambiente onde predominam os conceitos éticos, o ser humano aprende a utilizá-los para viver em sociedade.
Entretanto, é fato que nem todos seguem os princípios da Ética de maneira constante, em todas as situações que enfrenta em sua vida. A personalidade ética, ao contrário, está sempre orientada para agir em conformidade com estes princípios. Assim, vive conforme a Ética todo aquele que, antes de agir, submete as suas ações ao juízo racional e Ético.
É lamentável que nem todos ajam assim e que se utilizem da Ética para alcançar os seus objetivos de vida. Porém, aqueles que submetem os seus atos aos princípios éticos, destes se pode dizer que têm uma personalidade virtuosa. O seu comportamento é sempre direcionado para o exercício da virtude.
Pode-se entender a virtude como a maximização dos princípios éticos. Em outros termos, a virtude é a plena realização dos princípios éticos. O ser humano virtuoso não só vive conforme os princípios éticos, como os pratica em sua plenitude, fazendo da prática da virtude o objetivo de sua vida.
Se a ética é entendida como a expressão da noção do bem, o homem virtuoso é o que age de modo a que a prática do bem seja o objetivo maior da sua vida. Assim, viver para a virtude é o ideal que faz superar todos os condicionamentos biológicos. Este homem chega até a negar o impulso primário da própria sobrevivência física, como é o caso dos heróis e dos mártires, que chegam a sacrificar o seu maior bem, que é própria vida. Sem dúvida o bem ético supera todo o bem biológico e estimula o homem a praticar a virtude em sua conduta rotineira, até ao limite de se sacrificar em benefício do seu próximo.
Na Maçonaria, a via ética é ligada diretamente ao princípio fundamental da busca da Verdade. Assim sendo, a conduta ética maçônica deve ser praticada em conjunto com a busca da verdade. Em outros termos, na vida esotérica e iniciática a Ética e a Verdade estão intimamente ligadas e constituem um duplo objetivo na vida maçônica.
Um ideal ético herdado da tradição platônica e pitagórica, na qual a busca da verdade não está separada do comportamento direcionado à prática do bem, assim como a conduta voltada para o bem não está separada da busca da verdade.
Sob este ponto de vista, não se pode imaginar um maçom que somente se comporte de maneira correta ou que esteja apenas voltado para a busca da verdade. No primeiro caso, ele seria apenas uma pessoa de bons costumes, mas não completaria o ideal maçônico da busca da verdade; no segundo caso, embora estimulado para a busca da verdade e praticando os bons costumes, não perseguisse o objetivo de viver pela virtude, objetivo principal da vida maçônica.
A verdade e a virtude são os dois pólos de uma única busca que caracteriza a via ética de natureza iniciática. Adicionalmente, também se pode dizer que a busca da verdade já é uma das virtudes do maçom. O caminho para a prática da virtude se inicia no rito de iniciação e se desenvolve através dos trabalhos ritualísticos em Templo. Falamos de um caminho que é gradualmente percorrido na busca do aperfeiçoamento individual, no qual os princípios éticos devem ser praticados, tanto em Loja quanto no mundo profano.
Toda a postura de natureza iniciática considera a Ética como sendo uma bagagem de princípios que tem caráter universal e que pertence à história do ser humano. Assim, o maçom deve considerar a Ética como princípio que não pode ser colocado em dúvida e que deve ser o ponto de partida para as suas ações. Por isso, ele se propõe a praticar os princípios éticos, em paralelo com o desenvolvimento da cultura e da tecnologia humana. Estes princípios são universais e sempre válidos, mas novos princípios éticos podem e devem ser criados de modo a atender às novas condições culturais da humanidade.
O ideal do aperfeiçoamento interior deve contemplar o progresso e a sua maturação, e assim também se aplica ao mundo da Ética, que para o maçom não é constituído de um mundo fechado e definitivo. Por isso, a Ética de natureza iniciática, que supõe um comportamento racional, também se aplica na área sentimental.
Como para a busca da verdade, também a Ética iniciática se fundamenta na capacidade intelectual do ser humano, permitindo-lhe compreender os princípios éticos, de modo a evidenciar a sua aplicação no mundo profano, e a formular novos valores para as condições atuais e as da Humanidade do futuro. A conduta ética maçônica, por isso mesmo, possui dois aspectos: em primeiro lugar, o maçom deve viver não só segundo os seus princípios, mas deve perseguir a prática da virtude; em segundo lugar, a maturação de uma atitude que seja voltada para compreender a Ética e a sua adequação às continuas mudanças na coletividade humana.
Sob este ponto de vista, a Ética maçônica, fundamentada na íntima relação entre a virtude e a verdade, é um sistema de princípios aberto, ao qual todo o maçom oferece a sua contribuição, de modo a adequá-los ao bem pessoal e social. Para o iniciado, o bem pessoal não se restringe somente ao seu comportamento em Templo, senão também à compreensão da essência da realidade e do sentido da vida humana no mundo em que vive.
O bem individual do maçom torna-se assim o bem de todos os maçons, unidos pelo ideal iniciático, que se manifesta nos valores fundamentais que são expressos na noção de Irmandade. Isto significa não só dividirem entre si os princípios esotéricos, sentimentais e éticos, mas também a sua participação em um processo de aperfeiçoamento baseado nos conhecimentos recebidos em Loja. Um processo que sai dos Templos e do trabalho ritualístico e se estende a toda a Humanidade.
Devido a isso, o conceito de Irmandade é ampliado e envolve a toda a comunidade humana. Neste sentido, a Maçonaria não é uma comunidade devocional, na qual o trabalho sacro se aplica somente a quem dele participa. O trabalho ritualístico em Loja não termina com vantagem individual para nenhum maçom, porque dele se beneficiam igualmente todos os Irmãos e todos os seres humanos.
A Ética maçônica, por isso mesmo, não reduz a noção do bem só ao maçom como indivíduo ou aos demais membros da Ordem, mas se amplia e envolve toda a Humanidade. Daí podermos dizer que a Maçonaria se volta, de maneira sempre progressiva, ao bem comum, ao bem concreto, atual e futuro de todos os homens, independente de quais sejam as suas culturas, países, etnias ou religiões.
A vida do maçom envolve o seu trabalho em Loja e a sua atuação no mundo profano, no qual a sua postura deve ser profundamente Ética e Tolerante, de modo a modificar o mundo segundo a máxima: alcançar o maior bem possível para o maior número de pessoas.
Devido a isso, à Ética maçônica não satisfaz ideais religiosos. Ao maçom interessa não só o seu próprio bem, mas também, como seu máximo ideal, o bem de toda a Humanidade. É pela sua ação no mundo profano que os conhecimentos adquiridos em Loja, e que não são mero exercício pessoal, encontram sentido, na ampla comunidade coletiva de todos os seres humanos.
Somente assim se justifica a frase do ritual que diz que o maçom trabalha para levantar Templos à Virtude, cavar masmorras ao vício e trabalhar pelo bem e pelo progresso da Humanidade.
ANTÓNIO ROCHA FADISTA
M.’.I.’., Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB – Brasil