PREÂMBULO
O presente texto procura contextualizar historicamente e interpretar sob a luz da Maçonaria, o artigo do escritor português Fernando Pessoa intitulado “As Associações Secretas: Análise Serena e Minuciosa a um Projeto de Lei apresentado ao Parlamento”, publicado em 1935 no Diário de Lisboa. O texto estudado listou uma série de argumentos favoráveis à manutenção da Ordem Maçônica em Portugal durante o governo de Antonio de Oliveira Salazar. O Estado Novo português tomou uma série de medidas que visavam isolar Portugal do restante da Europa, medidas de caráter fascista e ditatorial, visando preservar o conservadorismo católico naquele país. A Maçonaria tornou-se vítima desta repressão conservadora sendo que permaneceu oficialmente proibida de funcionar de 1935 a 1974, quando a Revolução dos Cravos colocou fim à longa noite do Salazarismo. Em sua apologia a Maçonaria, Fernando Pessoa procurou destacar e descrever os principais aspectos da Ordem, enfatizando a sua importância para o desenvolvimento da civilização ocidental.
01 – INTRODUÇÃO
O período compreendido entre o final da Primeira e o início da Segunda Guerra Mundial (1918-1939), que é chamado simplesmente de Período Entre – Guerras, em especial a década de 1930 foi, sob o ponto de vista político e ideológico, bastante que conturbada e tumultuada em praticamente todo o mundo. Esta instabilidade política adquiriu uma especial conotação atingindo a sua máxima amplitude e extrema gravidade no continente europeu. Na Europa de então cresciam e ganhavam corpo diversos tipos de doutrinas e regimes políticos que implantavam governos de caráter e natureza totalitários e opressivos. Foi dentro deste contexto histórico conturbado, marcado por elevados níveis de intolerância política, racial e filosófica, que foram elaborados e levados a cabo muitos programas de perseguições aos mais diversos setores da sociedade e grupos étnicos considerados diferentes.
Os anos da década de 1930 foram muito conturbados desde o seu início, principalmente devido a “Grande Depressão” econômica que foi originada com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em outubro de 1929. Uma crise internacional, a primeira grande crise do sistema capitalista. Foi uma situação profundamente caótica que abalou a confiança de diversos e múltiplos setores da população mundial na aplicação e na real eficácia da democracia liberal representativa, considerada a mola mestra do capitalismo, que era comum ao “Mundo Ocidental”. Como resultado deste pensamento, acabou surgindo em diversas partes do mundo, em especial na Europa, diversos regimes ditatoriais e autoritários de direita, sendo que naquela época já existia pelo menos um de esquerda, o governo de Josef Stalin na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Por curiosidade, destacamos que a União Soviética foi o único país a não ser atingido pela crise, fator que não quer dizer que ela não tenha vivido suas próprias e profundas crises internas.
Dentro deste contexto e da realidade histórica que marcaram as diversas perseguições empreendidas por governos autoritários e totalitários, a Ordem Maçônica na maioria dos casos foi sempre a personagem e a vítima de inúmeras campanhas que visavam simplesmente o seu total extermínio. A Maçonaria sempre foi um dos alvos prediletos de todos os tipos e exemplos possíveis de déspotas e ditadores ao longo dos séculos que marcam sua existência. Perseguiram e combateram a Ordem Maçônica ditadores das mais diversas conotações ideológicas, tanto aqueles que eram considerados de direita, como também aqueles que se diziam e procuravam se mostrar vinculados às idéias políticas consideradas de esquerda. Isto evidentemente se dá devido ao caráter discreto e sigiloso das reuniões maçônicas. De uma maneira bastante que simplória, podemos afirmar que quando se queria culpar alguém de algo, na década de 1930, procurava-se logo culpar os comunistas ou aos membros da Maçonaria.
A discrição existente e que é respeitada para a realização das reuniões e cerimônias maçônicas, destacando-se também o sigilo que também é um dos traços característicos da ação maçônica, representam algumas das diversas particularidades que sempre foram, e ao que nos faz contar sempre poderão vir a ser utilizadas pelos inimigos da Ordem para atacá-la e tentar utiliza-la como bode expiatório em situações especiais. Diga-se de passagem, que tal expediente também já foi muito utilizado pelos demais aproveitadores de situações.
Naqueles conturbados e extremados anos trinta, a Maçonaria foi uma das mais prediletas vítimas das mais inúmeras perseguições tanto por parte do nazismo, encabeçada por Adolf Hitler na Alemanha, como pelo Franquismo encabeçado por Francisco Franco na Espanha e também pelo já citado e que se apresentou como um modelo para a implantação de tentativas similares, o Fascismo. Conforme todos já sabemos, o Fascismo foi instituído por Benito Mussolini na Itália, logo após a Primeira Guerra mundial (1914-1918).
Foi nesta época conturbada, que se instalava no controle absoluto do Governo e do Estado em Portugal, uma ditadura que acabou sendo chefiada por Antônio de Oliveira Salazar. Esta ditadura de extrema direita, iria se manter e se perpetuar no mando do Estado e do poder político português, de 1932 até os meados da década de 1970.
“(…) Em Portugal, o governo liberal não conseguiu lidar com a crise econômica do pós-guerra, o que favoreceu os partidos de direita, estimulados pelo exemplo italiano. Em 1928, o presidente Antônio Carmona chamou Antônio de Oliveira Salazar para orientar a economia, com plenos poderes. Salazar, que se tornou presidente do Conselho de Ministros em 1932, rejeitava o liberalismo, o socialismo e a democracia. Apoiou-se no nacionalismo, no catolicismo e nas corporações, governando Portugal como ditador até 1968 (…)”(ARRUDA & PILLETTI, 2003, p.345).
02 – O CONTEXTO HISTÓRICO PORTUGUÊS: O GOVERNO DE ANTONIO SALAZAR
Antonio de Oliveira Salazar (1889-1970), era filho de agricultores portugueses, que conforme veremos constituía a parcela maior da população portuguesa naquela época, sendo que sua característica principal era serem extremamente religiosos, seguidores da Igreja Católica e também, não menos, conservadores ao extremo. Salazar era o filho mais novo da família que era composta também por outras quatro irmãs.
Quando de sua juventude Salazar estudou em um seminário da Igreja Católica e chegou ao ponto de receber inicialmente as ordens menores da Igreja. Acabou por decidir-se, porém, em não vir a ser ordenado padre. Continuou porém, com os seus estudos e terminou por doutorar-se em Direito pela Universidade de Coimbra no ano de 1918. Adotou o magistério e acabou ficando conhecido como professor catedrático de finanças, conforme aquilo que se dizia, chegou a ser considerado bastante competente para a cultura portuguesa daqueles tempos.
Salazar sempre foi um católico que demonstrava ser bastante fervoroso e também muito devoto, um fator que deve e que precisa ser levado em conta, sendo também seria e profundamente considerado, ao se procurar analisar e tentar explicar e compreender muitas daquelas medidas que foram tomadas pelo seu governo em favor da Igreja Católica e contra aqueles que eram considerados os seus opositores reais ou imaginários:
“(…) Sua ação política começou justamente por artigos de imprensa em defesa dos direitos da Igreja perseguida pelo laicismo da República, instaurada em 1910. Ainda estudante, Salazar foi presidente do Centro Acadêmico da Democracia Cristã. O seu melhor amigo era um padre, aluno da Faculdade de Letras: Manuel Gonçalves Cerejeira, futuro cardeal patriarca de Lisboa (…)” (FERREIRA, 2004, p.90).
Em 1926, ocorreu um golpe militar que acabou colocando um fim ao então jovem ainda, governo republicano e também à republica em Portugal, instituindo uma ditadura. Durante os breves 16 anos de República, Portugal acabou conhecendo por volta de 38 governos, ocorreram diversos golpes militares, iniciaram-se muitas revoltas, inúmeras rebeliões e revoluções tiveram seus dias de fúria e de temor entre os cidadãos portugueses. Ocorriam ainda muitas greves, o desemprego aumentava progressivamente a cada dia, a fome se alastrava de maneira gradual e a miséria tomava conta cada vez mais do povo português.
“(…) O consenso que gera na sociedade portuguesa deve-se a razões de natureza interna, decorrentes da instabilidade política com 45 ministérios em 16 anos, a vários actos violentos conduzido pela oposição monárquica e grupos radicais de republicanos, sem esquecer os confrontos laborais. Por outro no seu afã anticlerical a República esquecera o país maioritariamente agrário, conservador e católico e viu esfumar-se o apoio da sua base social, a classe média urbana, com a redução dos seus rendimentos proveniente da inflação do pós-guerra, da instabilidade social e política e do avanço das ideias bolchevistas, inclinando-se para um governo que restaurasse a ordem e a tranquilidade (…)” (GONÇALVES, 2004, passim).
Todos estes fatores caóticos, que somados vieram a colaborar para que uma grande e expressiva parte da população, que era predominantemente rural, influenciada pela Igreja Católica e sendo assim possuía uma visão bastante conservadora, viesse a apoiar o novo regime. Esse apoio foi forte e profundo, mesmo sendo o novo governo declaradamente uma ditadura militar.
Antonio Salazar foi então, escolhido para atuar como o Ministro das Finanças do novo governo, porém, descontentou-se com a situação encontrada e logo saiu da administração. Em 1928, com a escolha do general Oscar Carmona para chefe do governo militar, Salazar retornou a sua condição de Ministro. Portugal seria novamente abalado e de uma maneira bastante profunda, a exemplo do restante do mundo, pela crise econômica de 1929. Com as repercussões da crise o governo abalou-se e o único ministro a permanecer no cargo foi Salazar que conseguiu controlar as finanças públicas a ponto de, ainda em 1929 anunciar que as contas do Estado estavam em ordem e com saldo positivo.
“(…) O sucesso de Oliveira Salazar nas Finanças numa gestão de apertado rigor deu-lhe as condições políticas para a sua ascensão a chefe do governo em Julho de 1932, com o apoio do capital financeiro, da Igreja, da maioria do exército, dos intelectuais conservadores e dos monárquicos (… )” (GONÇALVES, op. cit.).
Em 1932, Antonio de Oliveira Salazar tornou-se o primeiro civil a chefiar um governo da Ditadura Militar, sendo que ele foi apresentado pela propaganda com um verdadeiro salvador da pátria. Salazar se manteria como chefe do Conselho de Ministros de Portugal até o ano de 1968, quando se afastou devido a problemas de saúde.
Em 1933, com a entrada em vigor de uma nova constituição, a Ditadura Militar chegou oficialmente em seu término, sendo substituída pelo Governo do Estado Novo. O novo regime, caracterizando-se também como uma ditadura, seguiu uma estrutura administrativa e organizacional que obedecia a vontade do chefe do governo, Antonio Salazar. O Estado Novo português era considerado como sendo Corporativo e Autoritário:
Corporativo, pois negava claramente a existência da luta de classes;
Autoritário, pois permitia a existência de apenas um partido político, a União Nacional que era o partido do governo.
A União Nacional que havia sido criada em 1930, inicialmente tinha a pretensão de procurar não se apresentar e muito menos vir a se tornar um partido político, mas por fim veio a assumir-se como a base do apoio político do governo português.
“(…) A União Nacional rapidamente se revelou um partido único que Salazar, o seu chefe incontestado, manobrava a seu belo prazer. Em fins de 1934 realizam-se as primeiras eleições depois do golpe de 1926, concorrendo unicamente a União Nacional, a qual fica a controlar os 90 deputados da Assembleia Nacional. Entretanto havia sido iniciada a extinção dos partidos políticos, das ”sociedades secretas” e dos sindicatos livres. (…)” (Idem)
Existia ainda uma polícia política que procurava atuar da maneira mais implacável possível contra os opositores do governo. As prisões portuguesas passaram a ser freqüentadas e também abarrotadas por intelectuais e políticos, principalmente por todos aqueles que não comungavam das idéias e que não demonstravam ou desejavam demonstrar o apoio ao governo de Salazar. A vigilância e a espionagem sobre os cidadãos e a sociedade tornaram-se intensas e também uma prática comum. A política e a ideologia do Estado Novo de Antonio Salazar, baseava-se em três pontos que eram considerados essenciais a existência de Portugal:
Deus
Pátria
Autoridade
O Estado Novo português possuía um caráter que pode ser considerado estreitamente clerical. As idéias defendidas e postas em prática pelo governo de Salazar eram plenamente identificáveis, comparáveis e compatíveis com as idéias e posições doutrinais da Igreja Católica.
Pode-se afirmar que a política que foi conduzida por este Estado Novo, era tipicamente reacionária. Podemos conceber uma posição política como sendo reacionária, quando ela procura barrar as mudanças e as transformações a partir do momento em que elas comecem a se tornarem evidentes. Uma posição reacionária pode ser considerada extremamente conservadora. A política portuguesa de então, apresentava-se de uma forma bem parecida com a política que era praticada pelos principados reacionários europeus que tiveram a sua existência registrada em meados do século XIX, conforme foi colocado por René Rémond e citado por João Ferreira (FERREIRA, op. cit. p.93)
Ao longo do seu longo governo, Antonio Salazar procurou resistir o máximo que pode à modernidade, ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento da economia e da sociedade portuguesa. Era seu desejo expresso, procurar preservar a paisagem e também o estilo de vida rural dos portugueses, evitando desta maneira que o surgimento de indústrias provocasse o surgimento de uma classe operária em Portugal.
Salazar acreditava piamente que barrando, ou prejudicando ao máximo o desenvolvimento industrial, ele iria conseguir barrar o nascimento, desenvolvimento e também o eventual fortalecimento de uma classe operária industrial urbana. Desta maneira Antonio Salazar tentava evitar que se fizesse surgir em Portugal à luta de classes. Salazar estaria procurando evitar uma maior difusão das idéias de cunho marxista bem como o início de uma ameaça comunista, idéia esta que presente no mundo ocidental acabou por fazer muitos estragos ao longo de todo o século XX. Portugal foi por muito tempo o país mais atrasado industrialmente e economicamente de toda a Europa Ocidental.
Era justamente do interior do universo rural conservador português, preservado intocado e blindado pela ditadura, que Salazar buscava e encontrava o apoio que era necessário para a sua manutenção no poder. Atuando de uma forma que era completamente ao contrário de tudo aquilo que ele havia defendido em seus escritos da juventude, o ditador português procurou reduzir ao máximo os investimentos em educação. Não desenvolver a educação e reduzir os investimentos nela, foi uma das formas encontradas para conter e mesmo não permitir e procurar mais uma vez bloquear o desenvolvimento tecnológico e industrial que poderia, como já mencionamos, por em contradição a sua maneira de ver o mundo. O governo salazarista procurou barrar o desenvolvimento natural da evolução histórica em Portugal, aqueles que ousassem pensar de maneira diferente eram considerados simplesmente como os inimigos do Estado.
Eleger os seus inimigos e opositores, identificando as possíveis ameaças à sua integridade, foi uma das muitas formas que o Estado Novo português, a exemplo de seus congêneres fascistas e nazistas, procurou encontrar e desenvolver para se perpetuar e eternizar no poder. O combate aos inimigos do regime passou a ser a justificativa da existência do próprio regime salazarista. O principal inimigo escolhido pelo Governo foi o comunismo, sendo a sua ameaça realmente presente ou simplesmente imaginária. Para combater o movimento e a ameaça comunista foi criada uma organização paramilitar, a Legião Portuguesa . Salazar fará deste combate anticomunista a sua principal bandeira de existência e também a principal bandeira do Estado Novo.
“(…) É ainda o anticomunismo que o levará a ordenar à polícia que persiga os comunistas sem esmorecer. Durante mais de quatro décadas, àquela polícia (…) não deu tréguas ao aparelho clandestino do Partido Comunista Português – PCP (…)” (FERREIRA, op. cit, p.93).
Como pretendemos destacar, demonstrar e também já efetivamente afirmamos neste estudo, os comunistas portugueses não foram os únicos alvos da repressão salazarista. Diversos outros grupos sociais e políticos também foram duramente perseguidos e oprimidos pelo regime:
“(…) Anarco-sindicalistas (…) socialistas, republicanos, maçons, católicos progressistas, foram também perseguidos. Embora (…) a repressão fosse estatisticamente, bem mais branda do que em outras ditaduras européias ou sul-americanas (…) o regime foi responsável por centenas de prisões políticas, tortura e morte (…)” (Idem).
Também surgiram, ao longo do tempo, dissidências entre aqueles que inicialmente apoiaram o Estado Novo. Nem mesmo este alinhamento ou as colaborações iniciais bastava para neutralizar a forte ação da repressão salazarista. Os dissidentes também foram duramente perseguidos e neutralizados:
“(…) Os dissidentes, mesmo que noutras ocasiões tenham apoiado Salazar, são neutralizados implacavelmente, desde os ‘camisas-azuis’ nacional-sindicalistas, desejosos de criar em Portugal um movimento de massas parente do fascismo e do nazismo, até aos monárquicos nostálgicos de uma restauração que o chefe do governo somente viria a rejeitar em 1951.
O pulso de ferro abate-se também sobre os militares que ousam desafiar sua autoridade (…)” (Idem, p.94).
Em Agosto de 1968, Salazar sofreu uma queda e bateu com a cabeça, entrando em coma, foi imediatamente hospitalizado. Em Setembro daquele ano, o Presidente da República nomeou Marcello Caetano como o novo Presidente do Conselho de Ministros. Antonio de Oliveira Salazar morreu em 27 de Julho de 1970, alienado, sem tomar conhecimento da realidade que o cercava. Ministros chegavam a visitá-lo em sua quinta para juntamente com ele despacharem. Salazar não percebeu nunca que eram despachos de mentira, que visavam apenas não contraria-lo.
Marcello Caetano governou Portugal ainda até 25 de Abril de 1974, quando ocorreu a “Revolução dos Cravos”. A Revolução foi conduzida e efetivada por jovens oficiais das forças armadas portuguesas, que acabou por derrubar de vez o regime salazarista e implantar definitivamente a democracia em Portugal. Portugal finalmente começou a viver o século XX em sua plenitude e a se integrar com a Europa.
03 – A EXTINÇÃO DA MAÇONARIA PORTUGUESA
Quando se instalam no poder, os ditadores de uma forma geral e de maneira imediata procuram implantar medidas para que possam se perpetuar no poder. Procurar calar ou mesmo exterminar aqueles que porventura tenham as condições materiais e intelectuais de vir a criticá-los ou mesmo compor um grupo de oposição, seja isso de maneira imediata em um futuro ainda que distante. Calar os opositores é uma das maneiras que os déspotas encontram para se manter no poder. As medidas restritivas, de uma maneira geral sempre passam pela extinção ou limitação das liberdades civis, principalmente aqueles direitos que são referentes à locomoção e também à associação. Ocorre a instalação de órgãos que irão censurar os meios de comunicação, proíbe-se a circulação dos jornais e outros meios de comunicação de massa que se recusam a acatar ou a apoiar as decisões dos novos governantes.
As reuniões de pessoas, principalmente daquelas pertencentes a classes sociais e profissões que forem tidas como sendo perigosas ao estilo de administração do Estado, são restringidas ou simplesmente proibidas. O mesmo destino é imputado às associações e agremiações culturais e também, principalmente aos partidos políticos que sejam considerados como opositores imediatos ou ainda possíveis e futuros do governo implantado.
O que finalmente queremos colocar e demonstrar é que de uma forma geral os governos totalitários perseguem a Maçonaria e os seus membros, em todo quanto é canto do país, proíbem suas reuniões, confiscam ou simplesmente tomam os seus bens, prendem ou eliminam os seus líderes e também aqueles que sejam considerados maçons de maior renome e destaque. Também os ditadores e déspotas recém empossados no poder, ao perseguirem a Ordem Maçônica procuram também, como já afirmamos anteriormente, evitar uma futura e muito provável oposição desta ao seu governo.
Evidencia-se também que ao procurar proscrever a Maçonaria, que estes ditadores estejam procurando de maneira que poderia ser considerada bastante obscena, com estas medidas, virem a se tornar simpáticos e agradáveis a grupos religiosos mais conservadores, em especial à Igreja Católica, sendo que hoje os principais adversários da Maçonaria pelo menos no campo da verborragia, sejam algumas Igrejas ditas Evangélicas . Diga-se de passagem, que muitos daqueles clérigos e mesmo os leigos que estejam engajados no serviço da Igreja, seja ela Católica ou Evangélica, sempre aplaudiram e muitos deles aplaudiriam ainda hoje medidas desta natureza. Não é segredo que muitos daqueles que se consideram religiosos e fervorosos defensores da Igreja e da fé cristã, se regozijam com o destino daqueles que são considerados infiéis, indesejáveis e não menos incômodos maçons.
Em Portugal a situação que se apresentou não ocorreu de maneira muito que diferente, a cartilha ditatorial foi aplicada na integra. O governo encabeçado por Antônio Salazar, no entanto procurou dar certo ar de legalidade às muitas das medidas coercitivas que resolveu adotar. A extinção da Ordem Maçônica foi proposta de maneira sutil e indireta, para procurar preservar e demonstrar ao menos um ar de legalidade. A extição foi proposta através de um projeto de lei que foi apresentado por um deputado de nome José Cabral, junto ao Parlamento português.
Este projeto tinha por objetivo principal, proibir e combater severamente o funcionamento e impedir a existência daqueles grupos e organizações a que ele chamava, em seu texto de uma maneira bastante simples e generica de Associações Secretas. Estabelecia este projeto que fortes sanções jurídicas e punições legais seriam aplicadas àqueles que destas Associações Secretas insistissem em fazer parte.
“(…) Em 19 de Janeiro de 1935, na recém-inaugurada Assembleia Nacional, o deputado José Cabral apresenta um projecto de lei proibindo todos os cidadãos portugueses de fazerem pare de associações secretas, sob pena de aplicação de penas várias que vão da pena de prisão ao desterro. Os candidatos à função pública e os funcionários públicos em funções são obrigados a jurar que não pertencem, nem jamais pertencerão a qualquer sociedade secreta. O projecto embora não o especifique dirige-se contra a Maçonaria. (…)” (GONÇALVES, op. cit., passim)
Ao analisarmos o conteúdo do projeto, que iria determinar a completa extinção das associações secretas e, portanto da Maçonaria em Portugal, podemos dele, de imediato tirar conclusões diretas e fáceis. O projeto, que acabou recebendo na Assembléia o número dois, da maneira como foi apresentado e redigido, tornava óbvio em seu texto e facilmente identificável que o alvo principal visado era a Ordem Maçônica, os maçons e as muitas Lojas Maçônicas constituídas, que àquela época floresciam e vicejavam no território português.
04 – EM DEFESA DA MAÇONARIA
Um daqueles que primeiro saiu e atuou em defesa da Arte Real, foi Fernando Pessoa, um escritor dotado de uma qualidade que, a nós na atualidade, se apresenta de uma maneira praticamente indiscutível. Em quatro de Fevereiro de 1935, ele publicou no jornal “Diário de Lisboa”, um artigo muito instrutivo, reflexivo, também em certos aspectos bastante que provocativo e ao mesmo tempo escrito de uma forma que o tornou muito agradável de ler.
Intitulado “As Associações Secretas – Análise Serena e Minuciosa a um Projeto de Lei apresentado ao Parlamento”, quando de sua primeira edição , neste trabalho Fernando Pessoa realizou a defesa do direito de existência e de atuação das associações que eram tidas como secretas. Em especial procurou defender o direito de existência e esclareceu bastante a atuação da Maçonaria ao longo do tempo, tanto em Portugal como no restante do Mundo, procurou também estabelecer os laços de fraternidade que mantém unidos todos os seus membros pelo mundo afora através dos tempos.
Usando as suas muitas habilidades superiormente desenvolvidas de escritor, aliadas à sua incomum inteligência, seu finíssimo e refinado humor somadas a uma intencional e sutil ironia, Fernando Pessoa desfiou pelas linhas e parágrafos do artigo, uma série de argumentos racionais contra a aprovação da já referida lei. Ao mesmo tempo em que procurava sempre repassar importantes informações sobre a Maçonaria, os seus princípios e a sua importância. Fernando Pessoa faz ainda ataques, alguns deles sutis outros muito diretos e objetivos à chamada antimaçonaria e aos seus representantes.
Fernando Pessoa destaca dentro da anti-maçonaria a ignorância , que é cultivada sobre os assuntos relacionados a Maçonaria, como o fator que liga profundamente aqueles que agem como anti-maçons e se consideram os combates de uma Cruzada sagrada contra a Maçonaria e o universo dos maçons. É dentro deste rol de pseudos e sagrados combatentes da Maçonaria e defensores da fé cristã, que Fernando Pessoa coloca o deputado José Cabral, já referido como o autor do projeto de proibição e combate as sociedades e associações secretas.
“(…) como a maioria dos antimaçons, o autor deste projecto é totalmente desconhecedor do assunto Maçonaria. O que sabe dele é até, porventura, pior que nada, pois, naturalmente, terá nutrido o seu antimaçonismo da leitura da imprensa chamada católica, onde, até nas coisas mais elementares da matéria, erros se acumulam sobre erros, e aos erros se junta, com a má vontade, a mentira e a calúnia, senhoras suas filhas. (…)” (PESSOA, Passim).
Se Fernando Pessoa ainda estivesse vivo e atuante, conforme o seu estilo neste início de Terceiro Milênio, com certeza hoje substituiria a referência que fez a virulência da imprensa portuguesa que se denominava de católica, daquele já longínquo ano de 1935, por uma outra que levasse em conta as diversas publicações existentes dos supostos e pseudos pregadores evangélicos. Levaria em conta também, com toda a certeza, os sites e os textos disponíveis e existentes na internet, que já se apresentam de forma incontável. Textos e sites estes que dedicam o seu tempo e o seu espaço a fazer ataques gratuitos a Maçonaria e aos maçons. Existe em nossos dias um consenso entre alguns fundamentalistas religiosos, muitos deles neo-pentencostais, de que a maçonaria representa uma ameaça ao cristianismo e também as suas idéias messiânicas e apocalípticas. Estes ataques se realizam na maioria das vezes de forma raivosa e gratuita, conforme já afirmado, pois a Maçonaria nunca desejou destruir e nem mesmo ocupar o lugar que pertence ao cristianismo na cultura da Civilização Ocidental.
Afirmamos aqui e sempre que for necessário, de uma forma segura e tranqüila, conforme aquilo o que nos é colocado por José Castellani, que de maneira alguma a Maçonaria se apresenta ou algum dia procurou se apresentar como uma religião, ou pretensa substituta de alguma religião . Isto pode ser afirmado apesar da Maçonaria também fazer uso de uma linguagem simbólica. Um simbolismo que na maioria das vezes pode ser próprio da religião, em especial da Igreja Católica. Tal particularidade tem levados a muitos daqueles que são desconhecedores dos princípios e das práticas da Ordem Maçônica, a imaginá-la e a representa-la como sendo uma religião . Tal condição e situações, tem levado até mesmo a alguns maçons menos esclarecidos e informados a idealizarem a Maçonaria como sendo uma religião perfeita, para eles a mais antiga, perfeita e justa de todas elas:
“(…) Embora a Maçonaria não seja uma religião e nem seja uma ordem mística, ela utiliza, em seus rituais, na sua simbologia e na sua estrutura filosófica e doutrinária, os padrões místicos de diversas seitas, associações e civilizações antigas, principalmente os relativos às religiões e às ordens iniciáticas de cunho religioso daqueles povos que representaram o alvorecer das civilizações e que representam o alvorecer das civilizações e que concentravam, desde o século V a. C., em torno dos rios Tigre e Eufrates e do Mar Mediterrâneo. (…) [A Ordem Maçônica] nascida em sua forma moderna, nas asas das aspirações liberais e libertárias dos povos subjulgados pelo poder real absoluto e pelos privilégios do clero, ela, também, é liberal e libertária, evolutiva e adaptável às épocas, racional e democrática. Para armar todavia, a sua doutrina moral, ela buscou o simbolismo nascido da mística de civilizações perdidas na noite dos tempos; e o simbolismo, fonte de espiritualidade oculta, será, sempre, por mais que a cibernética e a materialidade dominem o mundo, uma LUZ no caminho da humanidade (…)” (CASTELLANI: 1996. p.92)
Um outro ponto essencial e muito importante, que torna o artigo de Fernando Pessoa envolvente e ao mesmo tempo extremamente interessante para a Ordem Maçônica e que deve, portanto ser bem explanado, é o fato de que ele por diversas vezes tenha se declarado como um não iniciado na Maçonaria, ou seja como ele afirmava sobre si mesmo, um não – maçom. Fernando Pessoa destaca, porém a sua grande admiração e o seu profundo respeito pela Ordem, porém não se cansa de afirmar também a imensa dificuldade encontrada por aqueles que não são iniciados nos seus augustos mistérios, para poder estudar, procurar compreender e atingir um nível de conhecimento e entendimento razoáveis sobre a Maçonaria:
“(…) Não sou maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente. Não sou, porém, antimaçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma idéia absolutamente favorável da Ordem Maçônica. A estas duas circunstâncias, que em certo modo me habilitam a poder ser imparcial na matéria, acresce a de que, por virtude de certos estudos meus, cuja natureza confina com a parte oculta da Maçonaria – parte que nada tem de político ou social -, fui necessariamente levado a estudar também esse assunto – assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora (…)” (PESSOA, op. cit.)
Por meio de informações diversas que chegaram ao nosso conhecimento, existe uma possibilidade que tem sido bastante considerada sobre o fato de que Fernando Pessoa tenha pertencido à Ordem Rozacruz. O que é certo, porém, e que ele próprio também afirmou, ainda em 1935, ao procurar fazer uma definição de sua personalidade, que pertencia a Ordem dos Cavaleiros Templários. Apesar dele não o afirmar de maneira direta e objetiva, é possível que ele tenha também pertencido a algumas outras ordens ou grupamentos místicos ou esotéricos, pois é isso que ele nos faz entender por diversas vezes:
“(…) Tendo eu, porém, certa preparação, cuja natureza me não proponho indicar, pude ir, embora lentamente, compreendendo o que lia e sabendo meditar o que compreendia. Posso hoje dizer, sem que use de excesso de vaidade, que pouca gente haverá, fora da Maçonaria, aqui ou em qualquer outra parte, que tanto tenha conseguido entranhar-se na alma daquela vida, portanto e derivadamente, nos seus aspectos por assim dizer externos (…)” (Idem)
As informações anteriormente citadas foram feitas, com certeza, no intuito de demonstrar àqueles que possuíam sentimentos contrários à Maçonaria, que ele possuía conhecimentos suficientes sobre a Ordem. Um conjunto de conhecimentos que em seu julgamento e em seu íntimo o habilitavam e lhe davam uma autoridade intelectual, que ele julgava ímpar, para atuar como um defensor consciente da Maçonaria. Para que Fernando Pessoa tivesse a segurança necessária em suas afirmações, e também com o possível intuito de tentar evitar as futuras com certeza graves complicações junto ao governo português, imaginamos também, que ele tenha procurado se valer e destacar o fato de que não era maçom. É possível pensarmos que ao afirmar tal condição, ele já estivesse procurando se precaver de eventuais e prováveis represálias diretas do Estado, que conforme já afirmamos estava já configurado na prática como uma ditadura que não respeitava os direitos individuais dos cidadãos.
Continuando com a sua defesa e a apologia que fez da Maçonaria, Fernando Pessoa coloca sobre um erro grave e que muitos dos antimaçons comungariam de sua prática, o fato deles considerarem ser a Maçonaria simplesmente uma associação secreta. Em suas afirmações, a Maçonaria seria, isto sim, uma Ordem Secreta. Afirmando isto em melhores palavras, Fernando Pessoa considerava a Maçonaria como sendo uma Ordem Iniciática.
“(…) A Ordem Maçónica é secreta por uma razão directa e derivada – a mesma razão por que eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos primitivos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, em o que hoje se chamariam Lojas ou Capítulos, e que, para se distinguir dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento – toques, ou palavras de passe, ou o que quer que fosse. por esse motivo os romanos lhes chamavam ateus, inimigos da sociedade e inimigos do Império – precisamente os mesmos termos com que hoje os maçons são bindados pelos sequazes da Igreja Romana, filha, talvez ilegítima, daquela maçonaria remota. (…)” (Idem).
Ainda sobre o fato de muitos dos supostos entendidos, considerarem a Maçonaria como sendo uma Ordem Secreta, o escritor Curtis Masil, nos coloca uma série de ponderações e afirmativas:
“(…) Na verdade não há propriamente sociedades secretas hoje em dia. O que há, quando muito, são organizações que comungam uma doutrina comum, exigindo de seus membros filiados certos compromissos para mantê-la sempre ativa, como se fora a chama acesa, erguida ao alto por muitas mãos, todas elas zelando para que o vento das hipocrisias humanas não apague jamais. Se o leitor prestar atenção verá que todas as grandes religiões do mundo, como a católica e a Judaica, possuem dois círculos: um externo, que é para o povo em geral; e o outro, interno, para o seu corpo de sacerdotes e rabinos, onde, de um lado, uns ouvem e aprendem, enquanto do outro lado há os que estudam e ensinam. Jesus Cristo, e este é apenas um exemplo, discutia com os seus Apóstolos. Mas o que lê ensinava àqueles Apóstolos, salvo o Alto Colégio da Cúria romana, talvez a sua congênere judaica, ninguém ficou sabendo até os dias de hoje (…)” (MASIL, 1986, p.13).
Um outro pensador maçom, Erwin Seignemartin, em uma conferência que foi realizada em 1979, também chegou a tecer algumas considerações importantes sobre o fato da Maçonaria não poder ser considerada como uma sociedade secreta. Erwin Seignemartin ponderou também, sobre aqueles que seriam os diversos objetivos e os propósitos da Ordem Maçônica e também sobre os segredos que devem ser guardados pelos maçons. Ele coloca que praticamente todo o conteúdo da Maçonaria esta acessível a qualquer pessoa que se predisponha a pesquisar em uma livraria ou biblioteca. Podemos colocar ainda que na atualidade os meios de pesquisa se avolumaram quase que ao extremo da facilidade e da obtenção de informações. Praticamente qualquer assunto sobre a Maçonaria pode ser encontrado em sites da internet:
“(…) A Maçonaria não é uma sociedade secreta, no sentido como tal termo é geralmente empregado. Uma sociedade secreta é aquela que tem objetivos secretos e oculta a sua existência assim como as datas e locais de suas sessões. O objetivo e propósito da Maçonaria, suas leis, história e filosofia tem sido divulgados em livros que estão a venda em qualquer livraria. Os únicos segredos que a maçonaria conserva são as cerimônias empregadas na admissão de seus membros e os meios usados pelos Maçons para se conhecerem (…)” (SEIGNEMARTIN, 1979, passim)
Alertando sobre as conseqüências que poderiam decorrer das às intenções do Deputado José Cabral e as dos seus aliados em tornar fora-da-lei a Maçonaria, Fernando Pessoa advertiu que as Sociedades Iniciáticas estão defendidas por condições e forças que podem ser consideradas especiais. Condições especiais estas que as tornam as Sociedades Iniciáticas praticamente indestrutíveis por forças que por ventura se avolumem e atuem contra elas a partir do exterior destas sociedades.
Sobre as ações praticadas contra a Maçonaria naquela época (1935), pelas inúmeras ditaduras que existiam na Europa – Hitler na Alemanha, Rivera na Espanha, Mussolini na Itália, Stalin na União Soviética – Fernando Pessoa nos coloca um dúvida sobre o caráter eficaz dessas medidas autoritárias. Destaca também a sua crença na ação da Maçonaria para colocar fim aos diversos regimes despóticos que havia listado.
O artigo escrito por Fernando Pessoa, “As Associações Secretas – Análise Serena e Minuciosa a um Projeto de Lei apresentado ao Parlamento”, não deve ser considerado apenas uma defesa da Ordem Maçônica. Ele também é, acima e antes de qualquer outra consideração, uma defesa profunda daqueles ideais que são considerados democráticos. O artigo apresenta uma defesa de forma clara da prática da democracia, uma defesa bastante profunda e fundamentada das liberdades civis e individuais. “(…) Nesse artigo Fernando Pessoa também faz a defesa da liberdade de pensamento, de expressão e de livre reunião (…)” (VARELLA, 2004, passim). Fernando Pessoa praticamente fez, de forma direta, clara e aberta um alerta a todos que pudessem e quisessem ouvir, contra a ameaça da ditadura cada vez mais opressora que se solidificava e se tomava consistência em Portugal.
4.1 – ATUAÇÃO INTERNACIONAL E A DIVISÃO DA MAÇONARIA
Sobre a atividade ou a atuação internacional da Maçonaria, Fernando Pessoa traça primeiramente uma estimativa, um tanto que por alto, da quantidade de maçons então existentes no mundo. Procura também destacar claramente as regiões do globo onde mais se concentrariam e a divisão das diversas Potências Maçônicas em atuação no ano de 1935:
“(…) Existem hoje em actividade, em todo o mundo, cerca de seis milhões de maçons, dos quais cerca de quatro milhões nos Estados Unidos e cerca de um milhão sob as diversas Obediências independentes do Império Britânico. Assim, cinco sextos dos maçons hoje em actividade são maçons de fala inglesa. O milhão restante, ou conta parecida, acha-se repartido pelas várias Grandes Obediências dos outros países do mundo, das quais a mais importante e influente é talvez o Grande Oriente de França.(…)” (Idem).
Em seguida, procurando explicar o fato de a Maçonaria apresentar-se dividida em potências que são independentes entre si, Fernando Pessoa registra e enfoca também o fato de que muitas destas potências existentes não manterem um contato e uma maior ligação e relacionamento entre si. Procura desta forma destacar também, o fato de que algumas potências e obediências maçônicas, fato que se mantém ainda hoje, não reconhecerem a existência de outras potências. Em outras poucas palavras, Fernando Pessoa discorda, chegando mesmo a duvidar de maneira bastante aberta e bastante clara da existência de um acordo internacional maçônico, boato ou lenda que de tempos em tempos ressurge sob a forma de propaganda, visando as mentes mais incautas. Afirmações estas, que eram usadas pelos perseguidores e opositores da Maçonaria:
“(…) As Obediências maçónicas são potências autónomas e independentes, pois não há governo central da Maçonaria, que é por isso menos “internacional” que a Igreja Romana. Há Obediências maçónicas que poucas relações têm entre si; há até Obediências que estão de relações suspensas ou cortadas (…) a Maçonaria necessariamente toma aspectos diferentes – políticos, sociais e até rituais – de país para país, e até, dentro do mesmo país, de Obediência para Obediência se houver mais que uma. (…)” (Idem).
Fernando Pessoa destaca ainda as diferenças de pensamento e ideologia que haviam entre os maçons da já distante década de 1930, mas que de uma certa maneira ainda hoje chegam a existir. Ele faz uso, como um exemplo que se apresenta de maneira extremamente eloqüente, o caso que era representado pelas três Obediências independentes que havia àquela época na França. Devemos procurar salientar também que estas diferenças eram bastante e profundamente acentuadas:
“(…) Há em França três Obediências independentes – o Grande Oriente de França, a Grande Loja de França (prolongada capitularmente pelo Supremo Conselho do Grau 33) e a Loja Regular, Nacional e Independente para França e suas Colónias. O Grande Oriente é acentuadamente radical e anti-religioso; a Grande Loja limita-se a ser liberal e anticlerical; a Grande Loja Nacional não tem política nenhuma. Dou outro exemplo. O Grande Oriente de França tem uma grande influência política, mas, excepto através dessa, pouca influência social. A Grande Loja de Inglaterra não se preocupa com política, mas a sua influência social é enorme. (…)” (Idem).
Porém, apesar da Ordem Maçônica estar e normalmente apresentar-se materialmente dividida, a sua união espiritual é também indiscutível sendo que é plenamente e facilmente identificável:
“(…) O espírito dos rituais, e sobretudo o dos Graus Simbólicos (nos quais, e sobretudo no Grau de Mestre, está já, para quem saiba ver ou sentir, a Maçonaria inteira), é o mesmo em toda a parte, por muitas que sejam as divergências verbais e rituais entre graus idênticos, trabalhados por Obediências diferentes. Em palavras mais perspícuas, mas necessariamente menos claras: quem tiver as chaves herméticas, em qualquer forma de um ritual encontrará, sob mais ou menos véus, as mesmas fechaduras. (…)” (Idem).
Esta união espiritual ligada por princípios morais e éticos, é destacada e tornada evidente, quando algum perigo grave ameaça a existência e a sobrevivência de alguma das diversas Potências existentes, atingindo por extensão o conjunto e o Universo da Ordem Maçônica, que é considerada Universal justamente por esta sua união espiritual, moral e ética:
“(…) Resulta desta comunidade de espírito profundo, deste íntimo e secreto laço fraternal, que ninguém quebrou nem pode quebrar, que uma Obediência, ainda que tenha poucas ou nenhumas relações com outra, não vê todavia com indiferença o ser esta atacada por profanos Os maçons da Grande Loja de Inglaterra não têm, como disse, relações com os do Grande Oriente de França. Quando, porém, recentemente surgiu em França, a propósito dos casos Stavisky e Prince uma campanha antimaçónica, de origem aliás ultra-suspeita, a vaga simpática, que potencialmente se estava formando em Inglaterra pelos conservadores que atacavam o Governo Francês, desapareceu imediatamente. O Times, conservador mas acentuadamente maçónico, relatou as manifestações contra o Governo Francês com uma antipatia que roçou pela deturpação de factos. E há muitos casos semelhantes, como o de certo escritor maçónico inglês, que em seus livros constantemente ataca o Grande Oriente de França, mudar completamente de atitude ao responder a uma escritora inglesa antimaçónica, que afinal dissera pouco mais ou menos o mesmo que ele havia sempre dito. Nisto tudo, que serviu de exemplos, trata-se de coisas de pouca monta, simples campanhas de jornal, e por certo de atitudes espontâneas e individuais da parte dos maçons que as tomaram. Quando porém se trate de factos maçonicamente graves, como seja a tentativa, por um governo, de suprimir ou perseguir uma Obediência maçónica, já a acção dos maçons não é tão individual, e isolada, nem se resume a uma maior ou menor antipatia jornalística. (…)” (Idem).
4.2 – OS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A MAÇONARIA
A respeito da união de princípios compartilhados pelas diversas Potências Maçônicas, podemos concluir como o escritor português também assim o fez e colocou, que a Maçonaria compõe-se de três elementos que são os seguintes:
O Elemento Iniciático
O Elemento Fraternal
O Elemento Humano
São estes três elementos que, uma vez considerados comuns a Ordem Maçônica, a tornam uma instituição espiritualmente, doutrinal e até mesmo ideologicamente unida e coesa. Elementos estes que devidamente analisados podem ser considerados como os fatores da profunda coesão da Maçonaria:
“(…) A Maçonaria compõe-se de três elementos: o elemento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal; e o elemento a que chamarei humano – isto é, o que resulta de ela ser composta por diversas espécies de homens, de diferentes graus de inteligência e cultura, e o que resulta de ela existir em muitos países, sujeita, portanto a diversas circunstâncias de meio e de momento histórico, perante as quais, de país para país e de época para época, reage, quanto à atitude social, diferentemente. Nos primeiros dois elementos, onde reside essencialmente o espírito maçónico, a Ordem é a mesma sempre e em todo o mundo. No terceiro, a Maçonaria – como, aliás, qualquer instituição humana, secreta ou não – apresenta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de maçons individuais, e conforme circunstâncias de meio e momento histórico, de que ela não tem culpa.
Neste terceiro ponto de vista, toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só idéia – a tolerância; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto se chama “doutrina maçónica” são opiniões individuais de maçons, quer sobre a Ordem em si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo profano. São diversíssimas: vão desde o panteísmo naturalista de Oswald Wirth até ao misticismo cristão de Athur Edward Waite, ambos eles tentando converter em doutrina o espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são simplesmente suas; a Maçonaria nada tem com elas. Ora o primeiro erro dos antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçónico em geral pelas afirmações de maçons particulares, escolhidas ordinariamente com grande má-fé. (…)” (Idem) .
Fernando Pessoa nos coloca mais uma vez que a Maçonaria, apesar de se encontrar unida espiritualmente, encontra-se também do ponto de vista material e institucional profundamente dividida. O escritor aproveita-se desta particularidade para concluir e apontar esta evidência para novamente apontar um outro erro estrutural dos antimaçons, o fato de ainda àquela época, como hoje ainda acontece, a ação social da Maçonaria apresentar e sofrer profundas variações de país para país, de um contexto histórico para um outro contexto histórico, em função das circunstâncias do ambiente e do tempo em que estas ações venham a ocorrer:
“(…) A sua acção social varia de país para país, de momento histórico para momento histórico, em função das circunstâncias do meio e da época, que afectam a Maçonaria como afectam toda a gente. A sua acção social varia, dentro do mesmo país, de Obediência para Obediência, onde houver mais que uma, em virtude de divergências doutrinárias – as que provocaram a formação dessas Obediências distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue de aqui que nenhum acto político ocasional de nenhuma Obediência pode ser levado à conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obediência particular, pois pode porvir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a Maçonaria não criou. (…)” (Idem) .
É esta doutrina espiritual que se encontra unificada em seus diversos princípios que tornam a Maçonaria uma Instituição Universal. Porém quanto às suas posições políticas, como já citadas, sofrem profundas variações de Potência para Potência Maçônica e de Maçom para Maçom. Estas variações de posições são ditadas pelas especificidades e condicionamentos variáveis de cada época e lugar. Segundo a opinião expressa por Fernando Pessoa, não teria muito cabimento julgar pessoas e principalmente instituições por suas ações em um passado remoto, como não caberia julgar alguém pelos erros dos seus familiares desenvolvidos em outros países. O não entendimento deste particular detalhe faz com que, na opinião de Fernando Pessoa, as campanhas antimaçônicas sejam fadadas inevitavelmente ao fracasso, a desconsideração e ao descrédito e mesmo ao escárnio por parte daqueles que são detentores de um mínimo que seja de cultura. Talvez seja esta conclusão que tenha levado Fernando Pessoa a escrever este artigo, em nossa opinião, expondo a ignorância, o fanatismo e o anacronismo dos movimentos que se colocam contra a ação da Maçonaria e dos Maçons, contra as liberdades individuais e obviamente contra o desenvolvimento que é próprio dos povos que as cultivam. Sua cultura erudita fez com ele enxergasse muito além das superstições religiosas e muito além das conjunturas locais momentâneas. Esta cultura acumulada por Fernando Pessoa, fez com ele acabasse percebendo a essência e muitos dos profundos ensinamentos contidos e presentes no interior dos princípios maçônicos:
“(…) Resulta de tudo isto que todas as campanhas antimaçônicas – baseadas nesta dupla confusão do particular com o geral e do ocasional com o permanente – estão absolutamente erradas, e que nada até hoje se provou em desabono da Maçonaria. (…)” (Idem).
4.3 – A AÇÃO ANTIMAÇÔNICA
Chegando ao final de seu artigo, Fernando Pessoa faz colocações sobre as diversas acusações que a Ordem Maçônica recebeu ao longo dos séculos, que naquele momento recebia e que ainda hoje (século XXI) ainda recebe. Acusações que ele considera infundadas, em sua opinião erudita.
Reclama também Fernando Pessoa, o devido reconhecimento pelos benefícios que foram proporcionados pela Maçonaria e pelos maçons em particular, à Civilização Ocidental. Reconhecimento que ele procurou colocar e reinvidicar de maneira bastante fundamentada como um contrapeso aos diversos males que a ação anti-maçônica procura imputar a Ordem. Este reconhecimento por ações benéficas que ele toma como uma questão de profunda justiça:
“(…) Sejamos, ao menos, justos. Se debitamos à Maçonaria em geral todos aqueles casos particulares, ponhamos-lhe a crédito, em contrapartida, os benefícios que dela temos recebido em iguais condições. Beijem-lhe os jesuítas as mãos, por lhes ter sido dado acolhimento e liberdade na Prússia, no século XVIII – quando, expulsos de toda a parte, os repudiava o próprio papa – pelo maçom Frederico II (Rei da Prússia) Agradeçamos-lhe a vitória de Waterloo, pois que Wellington e Blücher eram ambos maçons. Sejamos-lhe gratos por ter sido ela quem criou a base onde veio a assentar a futura vitória dos Aliados – a Entente Cordiale, obra do maçom Eduardo VII. Nem esqueçamos, finalmente, que devemos à Maçonaria a maior obra da literatura moderna – o Fausto, do maçom Goethe (…)” (Idem).
Fernando Pessoa finaliza o artigo, ironizando a falta de conhecimento fundamentado por parte dos antimaçons. Sutilmente destaca o apego dos antimaçons às lendas e ao lugar comum dos velhos chavões anti-cristãos, que reduzem a Maçonaria a uma simples conspiração contra a cristandade:
“(…) Acabei de vez. Deixe o sr. José Cabral a Maçonaria aos maçons e aos que, embora o não sejam, viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz. Deixe a antimaçonaria àqueles antimaçons que são os legítimos descendentes intelectuais do célebre pregador que descobriu que Herodes e Pilatos eram Vigilantes de uma Loja (Maçônica) de Jerusalém (…)” (Idem).
Ao final de seu artigo, Fernando Pessoa procura lembrar ao Deputado José Cabral, e através dele ao governo, dos segredos que com toda a certeza bem claramente eram guardados pela Igreja Católica, em especial a Igreja Católica de Portugal, tão defendida e sempre preservada pelo governo de Antonio Salazar. Fernando Pessoa convida o Deputado e o Governo Português para que, juntamente com ele fossem à cidade e ao Santuário de Fátima, no aniversário das aparições da Virgem Maria naquela cidade. Na verdade o convite feito ao deputado, soava mais como uma resposta provocativa do que simplesmente um convite à oração. Ao citar a cidade de Fátima e efetuar o convite, o escritor faz uma referência direta aos “Segredos de Fátima”, que em número de três, áquela época eram guardados a sete chaves pela Igreja Católica e por aqueles que deles haviam tido conhecimento e acesso ao seu conteúdo:
“(…) No dia 13 de Maio de 1917, três meninos pastores – os irmãos Francisco e Jacinta Marto e a prima Lúcia dos Santos – presenciaram a primeira de várias aparições da Virgem. Francisco e Jacinta morreram pouco depois da última visão, vítimas da gripe espanhola, enquanto Lúcia se trancafiou em um convento carmelita (…)” (DIAS, 2000, passim).
O Vaticano e a Igreja Católica portuguesa a princípio, olharam os relatos das aparições com relativa desconfiança, mas em 1930 autorizaram o culto a Nossa senhora de Fátima. Quando da publicação de seu artigo em defesa da Maçonaria, Fernando Pessoa já possuía pleno conhecimento sobre as atitudes e o posicionamento da Igreja em procurar preservar os segredos de Fátima e em manter a mística que se desenvolveu em torno destes eventos. Durante muitas décadas foram escritos inúmeros livros e artigos, surgiram cultos apocalípticos baseados nas especulações em torno da totalidade dos segredos, que foram parcialmente revelados na década de 1940. Porém apenas os dois primeiros foram tornados públicos, mesmo assim em uma linguagem truncada, cifrada e recheados de metáforas. O Terceiro Segredo de Fátima, seria revelado apenas no mês de Junho do ano Dois Mil pelo Vaticano , sob as ordens do Papa João Paulo II.
O que podemos retirar destes fatos, seria a conclusão prática sobre os segredos que são mantidos, ou que eram mantidos por aqueles que se consideravam conservadores e que se colocaram contra a Ordem Maçônica (Sobre a condição da existência e da necessidade de se manter segredos nas instituições, colocadas por Fernando Pessoa, já discorremos neste artigo). Nesta situação destaca-se em especial a atuação dos católicos conservadores portugueses. Devemos recordar que sempre a principal objeção mantida pela Igreja católica à Ordem Maçônica, ficou sempre em torno da existência de segredos entre os seus membros e também de juramentos que envolveriam a manutenção e a segurança destes segredos. Isto ficou bastante claro já no primeiro documento papal condenando a Maçonaria, emitida pelo Papa Clemente XII, denominada Constituição Apostólica “In eminenti”, publicada em 28 de abril de 1738.
05 – PRÓLOGO
Como já colocamos durante o desenrolar deste trabalho, o Projeto de Lei do deputado José Cabral recebeu na Assembléia Nacional o número dois. A Câmara Corporativa em data de 27 de Março votou favoravelmente à apresentação do Projeto de Lei Número Dois e ao prosseguimento dos tramites normais para a aprovação do projeto. Em 06 de abril de 1935 a Assembléia Nacional Portuguesa aprovou o “Projeto de Lei Número 02” por unanimidade, tornando-se a Lei número 1901, de 21 de Maio de 1935. De imediato a Ordem Maçônica foi considerada legalmente extinta pelo Governo Português. O próprio Deputado José Cabral chegou posteriormente a responder ao artigo de Fernando Pessoa, ocasião em que o chamou de “mimoso anfíbio”(sic):
“(…) Chove no Templo, da autoria de José Cabral, autor do projeto de lei que pretendia apenas regulamentar um velho preceito do Código Penal Português (artigo 283) publicado como carta ao editor do Diário de Lisboa, também publicado no A Voz. Chama Fernando Pessoa de ‘mimoso anfíbio’, faz referência ao ‘Protocolo dos Sábios de Sion’. Afirma que a Maçonaria causa a ruína de todas as instituições tradicionais, a derrocada de impérios poderosos, um desequilíbrio político e que desse aglomerado de destroços surgiram pela sua mão, as novas fórmulas políticas do liberalismo e da democracia, a queda da monarquia e tantos outros crimes.” (VARELLA, op. cit. Passim)
Restou, portanto, a Maçonaria e aos maçons portugueses atuarem na clandestinidade, sendo que o tempo fez com que muitos se silenciassem e Lojas abatessem colunas. Em 1974, por ocasião da Revolução dos Cravos que colocou fim à Ditadura Salazarista, existiam em todo o território de Portugal cerca de três ou quatro Lojas em funcionamento. Segundo Arnaldo Gonçalves, a história da Maçonaria em Portugal do período do Estado Novo está ainda para ser escrita e completamente revelada. Quanto ao destino de Fernando Pessoa, ele veio a falecer naquele mesmo ano de 1935, aos 47 anos de idade. Após a sua morte a totalidade de sua obra veio a público e tornou-se bastante conhecida em Portugal e nos países de língua portuguesa. Hoje Fernando Pessoa é um dos mais caros símbolos do Portugal moderno, culto e inteligente, sendo que ele é considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa.
06 – CONCLUSÕES
Um dos objetivos deste trabalho, e esperamos sinceramente que ele tenha sido atingido em sua plenitude, foi procurar mostrar como ocorre a atuação da Maçonaria na defesa das liberdades humanas. Um outro objetivo foi mostrar como aqueles que enxergam na Ordem Maçônica um poder adversário, atuam. Procuramos demonstrar também como atuam as ditaduras opressoras e os inimigos da Maçonaria e das liberdade individuais. Ditaduras que frequentemente podem vir a surgir nos mais diversos paises e sociedades e em qualquer tempo ou situação.
A Maçonaria enquanto defender a liberdade, manifestada em todos os seus aspectos, do ser humano, será sempre um alvo de perseguições e intolerâncias. Onde houver um ditador e uma ditadura haverá alguém se opondo, esse alguém poderá ser um maçom ou contar com o apoio da Maçonaria. A Maçonaria e o ideal maçônico já provaram que podem ser amordaçados, mas nunca emudecidos. Enquanto a Sublime Ordem se portar desta maneira surgiram e permanecerão homens e mulheres de bem que sendo ou não maçons se postarão em sua defesa, tal qual Fernando Pessoa. Que o Grande Arquiteto do Universo o tenha em seu seio, que o abençoe e o guarde.
Podemos concluir afinal este trabalho que se mostrou um tanto que extenso, mas que esperamos tenha sido informativo e conclusivo, com uma frase do próprio Fernando Pessoa. Uma frase em que ele define o guia de sua conduta e norte do seu pensar, em uma alusão bastante clara a um personagem histórico que é bastante caro e importante a toda Ordem Maçônica: o Grão-Mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários Jacques de Molay, que morreu executado na fogueira da Inquisição.
* “Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos: a IGNORÂNCIA, o FANATISMO e a TIRANIA“
Lisboa, 30 de Março, de 1935
Fernando Pessoa
Roberto Bondarik (bondarik@cp.cefetpr.br)
M.’.M.’., ARLS Cavaleiros da Luz, Nr 60 – Grande Loja do Paraná – Brasil.
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