HIPÓTESE (1)
“A Maçonaria preserva um segredo ou defende um destino?”
Entramos para a Maçonaria como recebedores e devemos nos transformar em doadores e transformadores. Até hoje, as informações que temos estudado sobre nossa instituição são históricas, relevantes, evidentes, simbólicas e devidamente estudadas e preservadas, mas… Sentimos a falta de um elo, de uma evidência maior para preencher determinadas lacunas obscuras, difusas e mal explicadas.
A Ordem tem preservado uma representação simbólica em todos seus componentes ocultando uma verdade, mostrando apenas a forma visível e externa de uma realidade interior e espiritual. Estamos ainda numa época em que todos ainda necessitamos e aprendemos através do processo cerimonial precisando de uma autoridade investida, e nos insurgimos contra qualquer liberdade e independência fora dos padrões que elegemos e nos impusemos. Enaltecemos a liberdade de consciência que é a única que os maçons admitem, aceitam e divulgam, mas nos atemorizamos quando nos deparamos com outras verdades que não se enquadram com nossa própria estratificação (2) ou modo de pensar (3).
Disse o Senhor Buda… Que não devemos crer em algo meramente porque seja dito; nem em tradições porque vem sendo transmitidas desde a antiguidade; nem em rumores; nem em textos de filósofos porque foram estes que os escreveram; nem em ilusões supostamente inspiradas em nós por um Deva (isto é, através de presumível inspiração espiritual); nem em ilações obtidas de alguma suposição vaga e casual; nem porque pareça ser uma necessidade análoga; nem devemos crer na mera autoridade de nossos instrutores ou mestres. Entretanto, devemos crer, quando o texto, a doutrina, ou os aforismos forem corroborados pela nossa própria razão e consciência. “Por isto” disse o Buda ao concluir, “vos ensinei a não crerdes meramente porque ouvistes falar, mas, quando houverdes crido de vossa própria consciência, então devereis agir de conformidade e intensamente.” (4)
Os mais atentos poderão verificar que existem similitudes de idéias e conceitos nos textos de seus autores preferidos atuais ou antigos, pensadores, filósofos, cristãos, cientistas e tantos quantos puderem relacionar; são idéias e conceitos expostos com outra linguagem ou formas de expressão, pois, os períodos são marcados pelos viajantes de sua própria época de conformidade com a dinâmica da vida de seu tempo histórico.
Estamos presenciando nesta época conturbada o esfacelamento das estruturas que mantiveram a Humanidade num equilíbrio social e de comportamento desejável (5). Todos os esforços despendidos para promover o ser humano em seus relacionamentos estão sendo transformados e alterados de forma irreversível sendo parte de um processo evolutivo que independe de nossas vontades, e deste modo, aceitando ou simplesmente compreendendo, há necessidade de adaptação, transformação ou pelo menos compreensão.
A cada geração, aspectos essenciais são preservados e ao mesmo tempo enriquecidos com outras formas que tomam o lugar das formas desgastadas pelo avanço civilizatório. Esse processo evolutivo é firmado sobre alicerces que foram sedimentados através do tempo e sobre eles, sempre atendendo temporariamente às aspirações da vida interior (espiritual) que é dinâmica, incessante e anseia expandir.
Nossa instituição proporciona um “despertar” para a vida interior através dos procedimentos em todo processo da admissão, desde o convite ao profano (6) até seu ingresso. É uma experiência subliminar (7) que estimula uma expansão da consciência provocando e revelando degraus de possibilidades evolutivas. Toda a dinâmica trabalhada nesse processo de iniciação tende a centrar para esse despertar (8). Todos nós independente de nossa origem, berço ou formação, enfrentou no mais íntimo de seu ser, aquela “crise existencial” em que nos perguntamos “quem sou eu?”, “o que é a vida?”, “de onde viemos, para onde vamos?”, “qual minha tarefa para essa existência?”. O trabalho maçônico e sua dinâmica possibilitam a resposta a essas reflexões ao longo do tempo, mas não é tudo. Ela revela-se como um agente transmissor de valores elevados e compreensão espiritual, proporcionados pelo aumento das percepções sensoriais ativadas pela vivência e dinâmica da ação ritualística, podendo resultar no recebimento de impressões superiores tornando a mente um instrumento receptivo e transmissor de valores elevados e ampla compreensão espiritual.
Toda existência de qualquer ser humano (e todos os outros seres da natureza, “animados ou inanimados”) tem um termo onde sua existência manifesta termina, havendo uma decomposição material e transformação em seus elementos básicos, mas a força ou energia de coesão desses elementos não se perde se transforma. No Universo que conhecemos há uma causa ativa que podemos chamar força ou energia que provoca uma manifestação, a existência dessa manifestação e o seu afastamento. Essa manifestação toma uma forma, entra em atividade e tem uma função apresentando um determinismo próprio que é necessário compreender e está em constante evolução.
Foi em Londres que IIr.’. premidos pela necessidade de se adequar ao espírito da época procurando escapar dos estreitos (9) padrões mentais até então vigentes (séc. XVII), que em 24 de junho de 1717 a Maçonaria passa de operativa para especulativa fundando-se a Grande Loja de Franco-Maçonaria dando-se uma estrutura escrita e unificada procurando estabelecer uma unidade formal e controlada. Isso não quer dizer que a Maçonaria passa a existir a partir dessa data, organizou-se como instituição a partir desse período, mas suas origens remontam a um passado distante onde são encontrados símbolos e sinais no Egito antigo e princípios morais e espirituais em todas as civilizações da antiguidade. Ofuscou-se em parte a mais bela e atrativa idéia de uma Maçonaria livre em uma Loja livre, pois, a necessidade de controle foi se sobrepondo aos méritos pessoais dos cidadãos livres e de bons costumes, dificultando em nossa ótica, uma atuação autônoma e independente de Lojas e IIr (10)
Mas, o que queriam registrar em nossos templos através de toda simbologia nossos antepassados maçônicos? Após o ingresso, o que nos motiva verdadeiramente em continuar participando dos trabalhos? Qual nossa aspiração em ascendermos os vários graus? Desejo de servir à humanidade, devoção aos trabalhos ritualísticos, oportunidade de lapidar nossos conceitos morais, expandir nossa consciência, aculturação (11), convívio social e político, alimentar um status relevante? Por que preservar? O que nos atrai?
Nossos estudos estão ancorados no conteúdo histórico maçônico que está à disposição através da bibliografia oferecida pelos diversos ritos; em toda dinâmica proporcionada pelo rito que provoca uma mudança no comportamento estimulando nosso caráter na sociedade; e nos conceitos inseridos no ritualismo que estimulam a reflexão sobre a espiritualidade. Atualmente com o recurso da tecnologia da informática e das novas conquistas da ciência estamos mais amparados com informações sobre qualquer tema, pois, estamos perfeitamente habilitados a desenvolver e compreender a história, aprimorar nosso caráter, desenvolver nossa espiritualidade sem precisarmos freqüentar e nos submeter a uma autoridade constituída como a Ordem ou a qualquer instituição, propiciando a apreciação pessoal da realidade. Por todo esse processo (se for só isso) não precisamos freqüentar as oficinas, pois, somos capazes de compreender e aprofundar os estudos referentes à Maçonaria sem os chamados “segredos” que (sob nosso ponto de vista) nada mais são (nesta atualidade) do que conteúdos que convergem para um aprimoramento do caráter. Também muito falamos em “escola de líderes”, mas muitos que aqui adentram possuem o embrião da liderança, pois tomam atitudes políticas em seu ambiente profissional e social sem se revelarem. Mas, não haveria algo mais inserido nessa dinâmica, nesse conjunto de fatores, que foi incluído no passado e que ainda não conseguimos visualizar ou compreender?
Podemos afirmar que o trabalho ritualístico da Ordem Maçônica, isto é, a prática dos rituais que se repetem é o símbolo da dinâmica das formas e funcionamento do Universo (sistema e ordem) e se referem ao homem por ser este uma consciência que pode compreender e assimilar o mundo objetivo e que não está manifesto por acaso. Revitaliza nossa vida espiritual, pois, proporciona uma diretriz para o comportamento e entendimento que direcionam a compreensão da essência criativa.
A advertência (12) e o título utilizado nas sessões e impressos “À Glória do Grande Arquiteto do Universo” e comumente usado em forma abreviada “GADU” deixa claro e expressa a lembrança e o reconhecimento de um “Princípio Criador” e como conseqüência, de um “plano criativo” (13) com Leis e conjunto de processos gerando no universo um desenvolvimento que favorece o desabrochar da vida. São forças construtivas disseminadas cujo efeito na humanidade, a sua natureza e sua qualidade são ainda um mistério.
Quanto mais conhecimento e sabedoria nós adquirimos, observamos que por trás da diversidade de formas há uma unidade básica, que a Humanidade é a soma de todas as individualidades constituindo-se um “Corpo da Humanidade” se assim podemos chamar, que o Homem não é um produto isolado apesar de observarmos apenas as diferenças, e que nessa diversidade há um todo único habitando o planeta e caminhando para uma realização maior.
Nossos “Princípios Gerais” caminham e indicam para a realização de uma humanidade melhor e mais esclarecida que é o esforço e o propósito que vem sendo trabalhado desde os primórdios das diversas civilizações reconhecidas historicamente ou não (14). Todo propósito quer de ordem política, tecnológica, científica ou religiosa propugna o bem-estar, uma qualidade de vida que proporcione satisfação e felicidade, liberdade de expressão, o direito de usufruir dos bens oferecidos pela atual civilização proporcionando o espírito fraternal em sua essência, o que afinal tem sido uma das buscas do ser humano.
A hipótese é que há um plano evolutivo em andamento desde a criação do Universo (ou Universos) e que ainda não temos a plena consciência de tal intuito. Desde o aparecimento do homem no planeta esse plano vem sendo executado ao longo de todas as civilizações e pelo grande impulso dado pelos grandes “instrutores” das diversas raças. Se nos afastarmos de nossa individualidade (15) e focarmos o aspecto abrangente e geral do ser humano no planeta, perceberemos que há um ponto comum entre todos os povos e civilização presentes ou passadas que é a elevação da consciência e convivência irrestrita e fraternal entre todos os seres vivos de todos os reinos da natureza.
Esse aspecto comum está manifesto ou latente entre os homens pelas suas organizações, grupos, ordens fraternais e iniciáticas, instituições, igrejas (16) e personalidades que almejam e pregam um mundo melhor e mais esclarecido. Esses grupos formam e disseminam conhecimentos que refletem suas ambições que são comuns entre si, mas formulados e expostos por aspectos diferentes. Cada um desses grupos com sua dinâmica própria, instrui, esclarecem e educam procurando elevar o nível de consciência de seus participantes a um plano em que percebam em seu interior que há uma “família humana” que caminha por um processo evolutivo que independe de nossa compreensão. Foram se formando através dos tempos sem que tivessem contato, emergindo “espontaneamente” em todos os pontos do planeta e se auto-estruturando procurando organizar-se e facilitar sua propagação.
Nossa Ordem objetiva a elevação e a expansão da consciência em primeiro plano, um despertar para as metas espirituais, e como conseqüência, deverá transpor as paredes da Oficina levando esse conhecimento para a humanidade. Trabalhamos com regulamentos e objetivos procurando capacitar individualmente nossos membros para a ação influenciando a opinião pública e assim provocando mudanças nas atitudes humanas. Somos partes de um todo único cujo propósito é facultar a possibilidade da evolução pessoal e de toda a humanidade.
José Eduardo Stamato, M.’.I.’.
ARLS Horus nº 3811 – Santo André – SP (Oriente de São Paulo) – Brasil
Notas:
Pela sobrecarga como efeito de um acúmulo de informações em nosso arquivo cerebral, acabamos armazenando informações com a certeza de estar de posse da verdade maçônica (em particular), e hipóteses novas ou “redescobertas” necessitam ser estudadas, pesquisadas e compreendidas em termos evolucionários. E sendo uma suposição admissível, é passível de ser revelada.
Estratificação – disposição por camadas ou estratos; (sociol.) processo social que conduz à superposição de camadas sociais, mais ou menos fixa e rígido, de estados, classes ou castas.
Por analogia temos como ex. geral o óculo de grau onde cada um se ajusta às suas próprias condições. São os diferentes graus de consciência ou os diferentes patamares das inúmeras zonas de conforto.
Buda nasceu por volta de 563 a.C. e morreu por volta de 483 a.C.
Se estivermos atentos perceberemos que essas transformações são cíclicas. Os pontos de ruptura com o “status quo” das diversas épocas geralmente foram marcados pelas revoltas, revoluções das massas ou por comportamentos sanguinários de tiranos.
Profano – como adj.: (fig.) alheio; estranho a idéias ou conhecimentos sobre certos assuntos. Não pertencente à religião; oposto ao respeito que se deve a coisas sagradas; não sagrado; leigo. Como s.m.: o oposto a coisas sagradas.
Subliminar – inferior ao limiar; que não passa do limiar da consciência; que não chega a penetrar nela; suconsciente.
Isso tem a possibilidade de ser firmado se os procedimentos na iniciação são feitos de maneira séria e não apenas mais uma formalidade a ser cumprida.
No sentido de compreensão limitada, tendo como parâmetro nosso século em que a ciência e a tecnologia nos favorecem uma dimensão maior do homem e do Universo. Não esquecendo que nossos conceitos de hoje também serão considerados “estreitos” no futuro.
Na época e por algum tempo como instituição social, mostrou-se forte e unida provocando mudanças nos ambientes social-político e econômico, mas houve um enfraquecimento pelo crescimento exagerado de membros que nem sempre abraçavam os ideais maçônicos, mas favoreciam uma elevação de status.
Aculturação – conjunto dos fenômenos resultantes do contato, direto e contínuo, de grupos de indivíduos representantes de culturas diferentes.
Advertência – ato ou efeito de advertir; aviso; observação. Advertir – notar; considerar; refletir em; dar fé.
Plano criativo – não há acaso, há um desencadeamento de fatores que geram uma manifestação cósmica possibilitando o aparecimento de universos, sistemas e como conseqüência a vida, e havendo um Arquiteto ou algo que idealize e promova uma manifestação se presume (em nossa limitada compreensão humana) um plano, uma intenção ou uma vontade.
Como ex. geral, Lemúria e Atlântida.
Isso não significa abandono de nossas atribuições pessoais (que também fazem parte desse plano).
Como organização religiosa.