INSTRUÇÃO DO GRAU DE APRENDIZ

V.’.M.’.,
Como parte da I.’. à Maç.’. realizada no dia 25 de novembro último passado,  peço licença para apresentar-vos, e aos demais IIr.’. o que com a graça do G.’.A.’.D.’.U.’. compreendi sobre  I.’. e a primeira Instrução do grau de Apr.’. M.’..

A palavra I.’. deriva da raiz latina  initia,na acepção de adquirir os primeiros rudimentos de uma ciência, filosofia, religião, por extensão início de uma nova vida religiosa, filosófica, social ou ética; maçonicamente, admissão ritualística aos AAug.’.MMist.’.de um grau Maçônico.

A principal função da I.’. é propiciar ao profano  neófito, ferramentas filosóficas e espirituais  que o capacitarão à  refletir sobre a  condição de homemescravo da matéria, vivendo na “escuridão espiritual”; e, por graças do G.’.A.’.D.’. U.’.apresentou-se a oportunidade para que com esforços e ajuda dos IIr.’.MM.’.  evoluir gradativa,  paulatina e constantemente  da  condição de: homem-matéria bruta para  homem-espírito em evolução. Afinal exigência divina e aspiração maior..

 O ritual de I.’. tem o seu caráter Simb.’., embora não deixe de ser realista, ao mostrar  ao indivíduo  sua  luta no seio da sociedade,  a dependência e sumo esforço a que o homem é submetido durante a  breve estada nesta terra para  viver livremente.

Ao contrário do que possa parecer a  filosofia da I.’. perde-se na noite escura da  história, mas sendo parte integrante das antigas religiões pré-cristãs, de egípcios, persas, gregos, judeus, romanos, celtas, escandinavos, ameríndios e  outros povos que chegaram e partiram. Esta realidade é provada pela descoberta de papiros e, outros tipos de escrita, especialmente após Champollion Ter decifrado a pedra  ROSETA,  possibilitando a tradução de grande parta da escrita cuneiforme do antigo Egito e, através de investigação cientifica  realizada pela moderna paleontologia  que nos legou o conhecimento de civilizações a muito desaparecidas e nos propiciaram obras  como: o Livro dos Mortos do Antigo Egito, o Livro dos Mortos Tibetano,  Zohar dos hebreus,  Evangelho de Cristo,  Apocalipse de S. João,  Filosofia Grega entre outras.

 Um  exemplo: Os  Mistérios Eleusinos da Antiga Grécia ensinava aos  Iniciados, preceitos morais, e o principio criador. O primeiro  dos mistérios ensinado ao neófitoresumia-se na frase. “A morte é vida, e a vida é morte; quem busca valores ilusórios nesta vida, buscá-los-á após a morte”.

 Em essência, a interpretação era que a vida aqui e no Além é imortal e a mesma, e que, por isso, após a morte o indivíduo seria o que fora e desejara em vida. No  livro dos Mortos do Antigo Egito, nos deparamos com a emblemática tríadeEu sou o Hoje. Eu sou o Ontem. Eu sou o Amanha . Através  de meus numerosos Nascimentos permaneço jovem e vigoroso. Eu sou a Alma divina e misteriosa que, em outro tempo, criou  os deuses, e cuja essência  oculta nutre as divindades do céu.

O que dá-nos a entender o caráter inicíatico e espiritual deste antigo povo. Ainda no referido livro o escriba deixa claro que para o povo egípcio e seus  Faraós, a  vida espiritual, era de suma importância para o Homem e, realmente tratada com seriedade,  acreditando firmemente na existência desta centelha divina chamada  alma . Para estes,  todos  deviamestar preparados para quando chegasse a hora  de atravessar o céu  em viagem na barca de Ra. Senão vejamos e interpretemos  esta significativa passagem:  Mas eu, eu nasci para o mundo do Além sob forma de um Espirito santificado cheio de vida… Salve, oh! Iniciados que morais sob a Terra! Destrui e extirpai o Mal que se aferra a Minha pessoa!.

Na antigüidade a I.’. tinha por objetivo  transmitir os conhecimentos ocultos,  religiosos e filosóficosdos  iluminados  aos escolhidos, uma vez que a grande massa popular ainda não possuía  o discernimento necessário  para  compreenderem  ensinamentos de  tamanho alcance e complexidade. A Bíblia  no Antigo e Novo testamento nos apresenta muitas demonstrações de que os profetas e o próprio Jesus transmitia  a Gnose por parábolas quando dos seus sermões. A exemplo do sermão da montanha .  Vejamos esta passagem do evangelho quando Jesus diz aos apóstolos:  “Quem tem ouvido para ouvir ouça . Quando os doze o interrogaram acerca dessa parábola Ele disse-lhes: “A vós é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam…”Ainda: ” Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; não aconteça que as pisem e, voltando-se contra vós, vos despedacem”.

  Nesta época a palavra “porcos”  era então alegórica dentro de determinados círculos, sinônima dos atuais “vulgos”, “leigos”, “profanos”. Os termos ” Reino”, Reino de Deus” ou dos “Céus”, “Porta Estreita”, “Caminho Estreito”, “Salvos”, “Condenados” são expressões relacionadas com a I.’. e os  seus Mistérios.

  No antigo Testamento temos muitas passagens  como em Isaías 26,7A vereda do Justo é plana; tu que és Justo aplana a vereda do Justo . Provérbios 9,1A Sabedoria edificou a sua casa, lavrou as suas sete colunas . Isso nos faz refletir sobre o  caráter espiritual do homem e a eterna dualidade matéria x espirito, apontando as  dificuldades que o homem espirito tem para sobrepujar  a homem matéria densa.  invólucro que aprisionará  nossa  alma  no Hades Orfeico  se não estivermos sempre em guarda e de prontidão  estaremos sempre maispróximo do precipício que do cume.

 Analisemos o que Nietzche nos diz em Assim falava Zaratustra:

    Não é a subida que atemoriza; o que provoca temor é a descida! A descida de onde o olhar se precipita para a profundidade e a mão se estende para o cume. É então que se apodera do coração a vertigem da sua vontade duplicada.  Vede, qual é a minha descida e o meu perigo; enquanto os meus olhos precipitam-se para ocume, minhas mãos quereriam agarrar-se em algo e amparar-se….no abismo!

Porque o ritual Iniciático deve ser efetuado em T.’. a C.’.? Tendo  por objetivo apresentar os conhecimentos esotérico e filosóficos  aos que passarem pelas difíceis provas exigidas e, encontrando-se  em estado de evolução espiritual que os permita compreender os ensinamentos. Estado este que não tem correlação com a situação material e intelectual do neófito e, sim, com  sua disposição e boa vontade para  através do estudo e dedicação, compreender e trilhar os passos  lentos mas firmes do aprendizado. Aprendizado que deverá ser ministrado  no recinto fechado do T.’. longe dos olhos profanos  da multidão, que não poderiam compreender seus nobres  ensinamentos; senão vejamos o que nos disse o filosofo  Nietzche:

    Falou Zaratustra:
    Quando, pela primeira vez, estive com os homens cometi a  grande estultícia de dirigir-me a praça pública. E como me dirigia a todos, não falava a ninguém: mas apreendi uma outra verdade, e isto apreendi comigo: ( …)  Em praça pública ninguém acredita em homem superior.  Em praça pública o Populacho diz! Não acreditamos em  Homem Superior, somos todos Iguais.

Após Iniciado, o Apr.’. deverá dedicar-se com boa vontade à compreensão dos ensinamentos ministrados pelo V.’.M.’. e demais IIr.’., dedicar uma parte de seu tempo ao estudo filosófico preparando-se para tornar um homem melhor, livrando-se do poder da matéria  que: tudo vê mas em nada crê. Vejamos a realidade desta verdade analisando a máxima do filosofo romano Epicteto que nos diz.

Um médico visita um enfermo e lhe diz: Tens febre; abstém-te por hoje de tomar qualquer alimento, e não bebas mais  que água. O enfermo dá-lhe crédito, agradece-lhe e paga-lhe. Um filósofo diz a um ignorante: Os teus desejos são desenfreados, os teus temores são baixos e servis, professas falsas crenças. O ignorante enfurece-se e sente-se ferido no amor-próprio. De que nasce tal diferença? De o Enfermo conhecer o seu mal,  e o ignorante não.

 As minhas expectativas quando da I.’.M.’. certamente foram um misto de curiosidade e apreensão. A minha natureza profana  temerosa e ansiosa sobre como se daria e, em que consistiaa I.’. Mas após a adentrarmos ao T.’., e sermos afetuosamente  acolhidos pêlos IIr.’.MM.’. que com tranquilizadora atenção dissiparam todas os receios,  dúvidas e apreensões existentes, que logo se  desfizeram para dar lugar as mais nobres expectativas. Ao  ser vendado e, colocado sentado durante longo tempo,  foi solicitado que pensasse na família, na minha vida pregressa e refletisse. Assim fui gradativamente entrando  em estado de absoluta calma e tranqüilidade espiritual,  propicio para a reflexão.

Certamente auxiliado pela escuridão dos sentidos físicos proporcionado pela venda nos olhos, a imaginação tal qual um calidoscópio ma mostrou nos mais diversos matizes, muitos dos momentos da vida presente e passada; propiciando uma visão cosmogônica do que esperamos para o futuro.

Outro ponto importante do processo de I.’. foi a  passagem pela câmara de reflexões onde, deixado a sós comigo  mesmo, em  ambiente decorado  com diversas alegorias M.’. que estão o tempo todo a  demonstrar a fatalidade e brevidade da  matéria. Na reflexão vi muito claramente a necessidade de estar sempre vigilante e perseverante em meu aprimoramento espiritual. afinal a todo instante somos lembrados que a morte física poderá se  abater sob nos como asa ligeira  e talvez  encontrar-nos  no mais absoluto sono espiritual. Como disse o mestre Jesus,  Estais sempre Vigilantes. O poeta e orador romano Cícero disse:  Quem não souber morrer bem, terá vivido mal, pois quantas vezes morremos vítimas de nosso medo de morrer!

NA câmara de reflexões tive a oportunidade de refletir sobre a vida pregressa; e sentir o peso das quantas  vezes  que: por orgulho,  ignorância,  apego a matéria,  falta de sabedoria, o meu  irmão menor,  ao solicitarajuda, simplesmente foi ignorado  e  despachado com o clássico  não tenho tempo . Talvez este irmão ao  aproximar-se nem estava em busca  sempre nosso receio maior – de ajuda material; talvez buscasse um pouco de carinho, solidariedade, uma voz amiga, um conselho, quem sabe talvez como a mariposa que busca a luz, este irmão  tenha pensado que podíamos dar-lhe um pouco de luz. Engano! Pois  enquanto não conseguirmos dominar a materialidade existente em nós. O Nosso  lado divino não fluirá. -Sim! porque os deusesnos fizeram para sermos divinos e perfeitos- Somente dominando  a matéria a centelha divina existente nos levará invariavelmente a buscar sol do meio dia que se irradia do TODO, o qual nos originamos e para o qual retornaremos.

E se neste dia não estivermos preparados vejamos o que nos anuncia  o  L.’.da L.’. mulçumano, onde  Maomé faz-nos uma clara advertência: E temei o dia em que cada alma se apresentará sozinha e dela não se aceitará nem resgate nem intercessão. E ninguém a socorrerá

Preceitos que devem ser lembrados todos os dias, para que possamos evoluir e melhorar como seres espirituais que somos e no dia que a divindade nos convidar a restituir-lhe o depósito que nos confiou, longe de revoltar-se pelo destino, devemos estar espiritualmente preparados como nos diz  Sêneca,  em sua carta a Sereno, comentando sobre o seu desterro e a possibilidade de morrer  no exílio longe de Roma, diz: que o homem ignaro, põe-se a reclamar das divindades,  maldizer o seu infeliz destino, aborrecer-se. Não! mil vezes Não! Neste dia com  a serenidade do sábio diremosDou-te graças pêlos bens que colocastes a minha disposição e deixastes em meu poder..  Retoma esta alma, melhor do que ma deste, pois de bom grado deponho em tuas mãos o que de ti recebi sem perceber

Diz o filosofo que  na morte dá-se a conhecer a verdadeira natureza dos heróis, e se sua vida pode nos servir de exemplo. Ao discípulo que mostrou-se aflito pela maneira como muitos dos maiores homens da época  morreram disse  SênecaObserva como cada um destes grandes homens suportou o seu destino; e se eles mostraram coragem, ambiciona a mesma firmeza de alma. Se foram fracos e covardes diante da morte, sua perda é indiferente

 Em  nossa primeira lição  fomos ensinados sobre os rituais de nossa iniciação como Apr.’. de M.’.,  os nossos instrumentos de trabalho, e o simbolismo de cada etapa. A I.’.submeteu o Apr.’. as prova  do que para os gregos significava os quatro elementos essenciais, a saber. A Terra, a Água, o Ar, e o Fogo. Do elemento Terra que na M.’. operativa, significava que  o Apr.’. tinha que primeiro aprender a desbastar a pedra bruta para  depois ascender a companheiro, na M.’. filosófica, simboliza no primeiro grau o corpo físico do aprendiz que ele deve aprender a dominar e educar antes de ascender ao grau seguinte.

O Ar,  um dos quatro elementos naturais é a Segunda das provas por quepassa o candidato a Apr.’.M.’.simbolizando a mais pura aspiração de sua inteligência  pelas mais elevadas concepções da vida. A Água, o terceiro elemento é a prova a que é submetido o candidato a Apr.’. M.’.pela Abluçãoensina-se que  a prova  que passastes é para lembrar-te sempre da pureza de suas mãos e que as mesmas jamais sirvam de instrumento para ações desonestas. Nesta hora a água lembra ao Candidato o ensinamento do Taoismo, quando  Lao Tse  disse aos seus discípulos:  Aprendei as virtudes da Água que são preciosos ensinamentos de vida; A água não sobrepõe obstáculos, mas sempre encontra um meio de contorna-los. Esse comportamento deve inspirar a conduta dos que buscam uma vida harmoniosa, livre dos conflitos desnecessários. Na terceira viagem o Candidato a Apr.’. M.’. passa pela prova do fogo, que com sua chama purificadora, elimina as nódoas do vício, simbolizando ao Apr.’. que o mesmo deve trabalhar incessantemente com as suas armas pela nobre causa da felicidade humana. Como disse  Lamenais, em  seu poema A LUTA NOBRE:

    Jovem soldado aonde vais?
    Vou combater por Deus nos altares da pátria.
    Benditas sejam as tuas armas, jovem soldado!
    Jovem soldado, ando vais?
    Vou combater pela justiça, pela causa santa dos povos e pêlos sagrados direitos dos homens.
    Benditas sejam as tuas armas, jovem soldado!
    Jovem soldado, aonde vais?
    Vou combater para a libertação de meus irmãos de sofrimento e opressão, para o rompimento das cadeias que os prendem ao mundo.
    Benditas sejam as tuas armas, jovem soldado!
    Jovem soldado , aonde vais?
    Vou combater contra os homens iníquos e em favor dos justos que os primeiros pisam com os seus pés; combater contra os amos em favor dos escravos, contra os tiranos em favor da liberdade.
    Bendita sejam as tuas armas, jovem soldado!
    ……………………………………………………………………………………
    Jovem soldado, aonde vais?
    Vou lutar para que caiam por terra as barreiras que separam os povos, e as quais os impedem de abraçar-se num comum amor, filhos que são do mesmo Pai.
    Benditas sejam as tuas armas, jovem soldado!

Por fim o batismo de Sangue, onde o Candidato a Apr.’. M.’. compromete-se a jamais faltar ao cumprimento dos deveres de  M.’. Na primeira instrução  é dito  que no Grau de Apr.’. está baseada toda a filosofia da  Maç.’.Simb.’., pois compete ao Apr.’. o trabalho de desbastar a P.’.B.’.superando as paixões  e defeitos, podendo assim concorrer para a  construção de uma humanidade melhor, que em ultima instancia é a verdadeira obra dos Maç.’..

Também foi dado a conhecer aos AApr.’. toda a simbologia inerente ao grau, utilizado por todos os Maç.’. para reconhecimentos mútuos tais como os S.’.T.’.P.’., P.’.Sem.’., P.’.P.’.  condição  sine Qua nonpara que os mesmos possam adentrar ao T.’. e participar dos TT.’..Nesta primeira lição ensina-se ao Apr.’. que  este  não deve nunca escrever de modo profano sobre o significado das PP.’.SS.’. e TT.’. ensinados no T.’.sobe pena de Ter sua Gar.’.cortada.

Durante a primeira lição  é apresentado aos candidatos à Apr.’.M.’. os seus instrumentos  de trabalho,  que são a régua de 24 Pol.’. o Maço e  Cinzel, instrumentos que o aprendiz ira utilizar para desbastar a P.’.P.’.transformando-a em P.’.C.’..

A Régua antigo símbolo de retidão, método e Lei. O antigo Deus Egípcio Phath tem em suas mãos  uma régua com a qual ele meda as enchentes do Nilo. Em sua simbologia a régua engendra a linha reta, que deve ser a direção de nossa conduta. Na L.’.Simb.’. significa  que o M.’.não deve malgastar as horas na ociosidade e egoísmo, mas sim repartir o tempo eqüitativamente, dedicando uma parte ao trabalho material, parte no estudo e meditação e parte em nosso recreio e repouso,  porem todas no serviço da humanidade

O Cinzel, emblema da personalidade não educada e polida. Representa o intelecto. Simbolizando as vantagens da educação o Cinzel  sustentado com a mão esquerda deve ser utilizado para golpear a P.’.B.’. para transforma-la em P.’.C.’.significado alegórico e moral que o homem deve trabalhar incessantemente  sobre si mesmo para aproximar-se da perfeição exigida pela divindade .Trabalho duro e difícil que exige constante vigília do Apr.’.M.’. O Cinzel, somente tem valor se o maço sustentado pela mão direita golpea-lo na cabeça,  caso contrario o maço seria somente um instrumento de destruição.

Poderoso é quem domina a si mesmo  – Taoismo
Infeliz do homem que repousa no amanhã  – Hesíodo

Graças ao G.’.A.’.D.’.U.’.por mais esta oportunidade de apreender.

Amauri Valle, M.’.M.’.
Aug.’.e Resp.’.Loj.’.Simb.’.Pedreiros de Machado nr 27,  Or.’.de Machadinho do Oeste- Ro. / Brasil