A Maçonaria em Portugal

A introdução da Maçonaria em Portugal remonta ao segundo quartel do século XVIII:.

Talvez por 1727, foi fundada por comerciantes britânicos estantes em Lisboa uma loja que ficou conhecida nos registos da Inquisição como dos “Hereges Mercadores”, por serem protestantes quase todos os seus membros:. Esta loja veio a regularizar-se em 1735, filiando-se na Grande Loja de Londres onde obteve, primeiro, o número de registo 135 e, depois, o 120:. Só em 1755 seria abatida ao quadro das lojas de presidência londrina, embora provavelmente não trabalhasse desde havia muito:. A Inquisição não a incomodou, por certo devido à nacionalidade e à homogeneidade profissional dos seus participantes, protegidos pelos tratados com a Inglaterra:.

Em 1733 fundou-se uma segunda oficina em Lisboa, denominada “Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia”:. Os seus obreiros era agora predominantemente católicos:. Conhecemos os nomes, nacionalidades e profissões de muitos deles, porventura a maioria:. Tratava-se sobretudo de irlandeses, tanto comerciantes como mercenários no exército português, mas havia também marítimos, médicos, três frades dominicanos, um estalajadeiro e até um mestre de dança:. O irmão desta loja que viria a ser mais famoso era o húngaro Carlos Mardel, oficial do exército mercenário e arquitecto de nome, a quem Lisboa tanto deve:. Em 1738, ao ser promulgada a bula condenatória de Clemente XII, a loja dissolveu-se, mas alguns dos obreiros, mormente os protestantes, não acataram a decisão papal, ingressando na outra loja:.

A terceira oficina criada em terra portuguesa conheceu destino mais trágico:. Fundou-a, em 1741, em Lisboa, o lapidário de diamantes John Coustos, nascido na Suíça mas naturalizado, depois, inglês:. Durou cerca de dois anos, ingressando nela uma trintena de estrangeiros residentes em Portugal, a maioria franceses, mas com alguns ingleses também, ao lado de um belga súbdito do Império, um holandês e um italiano:. Eram quase todos católicos, embora Coustos, o venerável, fosse protestante e outros, poucos, como ele:. Quanto a profissões, praticamente todos estavam ligados ao comércio, com percentagem elevada de negociantes e lapidários de pedras preciosas, ouro e prata:.

Denunciados à Inquisição em 1743, os maçons da loja de Coustos foram presos, torturados e sentenciados, sendo o venerável e os dois vigilantes condenados a vários anos de degredo e serviço nas galés:. Por intervenção estrangeira, porventura de outros maçons, libertaram-nos, porém, ao fim de algum tempo, com a condição de saírem do País:.

A perseguição de 1743 desmantelou este primeiro esboço de organização maçónica em terra portuguesa:. A própria loja dos “Hereges Mercadores” terá afrouxado a sua actividade, até de todo abater colunas:. A Maçonaria só tomou de novo força e vigor na década de 1760-70, mercê de uma maior tolerância governativa:. O marquês de Pombal – homem esclarecido e estrangeirado que, porventura, se documentara sobre a maçonaria ou fora mesmo iniciado no seu período de residência fora do País – deixou os pedreiros-livres em paz, ao mesmo tempo que quebrava as garras da Inquisição e a convertia em dócil instrumento do poder do Estado:. Em 1763 assinalava-se, em Lisboa, pelo menos uma loja de raiz inglesa, existindo talvez duas oficinas mais, uma francesa e a outra, mista, de militares e civis:. Em 1768 fundava-se, no Funchal, uma loja onde entraram, de certeza, obreiros portugueses, pertencentes à nobreza e à alta burguesia locais, ao lado de alguns ingleses e franceses também:. Na década seguinte, esta loja adormeceu durante alguns anos, retomando actividade a partir de 1779:.

Com a “viradeira”, tornaram as perseguições:. Inquisição e polícia deram caça à “pedreirada”, cujo volume ia avultando e inquietando os defensores da ordem estabelecida:.Por 1778 havia oficinas perfeitas ou simplesmente maçons desgarrados em vários pontos do País, como Lisboa, Coimbra, Valença e, vimo-lo já, Funchal:. Em 1790 temos testemunho certo da fundação, em Lisboa, de uma loja (chamada de D. André de Morais Sarmento), onde participaram uns 23 obreiros, 10 pela burguesia, 6 pela baixa nobreza militarizada, 4 pelo clero e 3 pelas colónias estrangeiras:. Na Madeira, no mesmo ano, havia duas lojas, e três em 1791, com um povo maçónico calculado em mais de 100 pessoas:. Na Horta fundara-se outra oficina e, provavelmente, uma também em Ponta Delgada:. No Porto existiu talvez uma loja em 1792:.

As perseguições de 1791-92 desmantelaram, pela segunda vez, a organização maçónica portuguesa:. Tanto em Lisboa como no Funchal e algures, os irmãos foram presos e impedidos de se continuarem a reunir:. As lojas tiveram de abater colunas e esperar dias melhores:. Isso não impediu, contudo, o funcionamento esporádico de algumas, como aconteceu em Coimbra, por 1793-94:.

Com o desembarque, em Lisboa, de um corpo expedicionário inglês, em Junho de 1797 – no quadro da guerra com a França -. introduziram-se as condições para que a Ordem renascesse:. Logo em 1798 havia constituídas quatro lojas inglesas em Lisboa, das quais três ligadas a regimentos e uma quarta aceitando também civis e portugueses:. Todas elas filiadas na Grande Loja de Londres, receberam os nº 94, 112, 179 e 315:. Esta última teve, para a história da Maçonaria portuguesa propriamente dita, um papel relevante, visto ter sido, anos depois, considerada a loja nº 1, quando se começaram a dar números às oficinas nacionais:. Foi a loja “União”:.

Até 1804 outras lojas se criaram e, ao lado delas, muitos maçons e simpatizantes foram ganhando diversas cidades e vilas do País:. Além do pessoal estrangeiro, numeroso e recrutado, como cinquenta anos atrás, entre os mercenários do exército, os comerciantes e industriais e o próprio clero, a comparticipação de cidadãos portugueses tocava já variados grupos sociais e ecoava em nomes ilustres nas letras, nas ciências e nas artes: abade Correia da Serra, FIlinto Elísio, Ribeiro Sanches, Avelar Brotero, Domingos Vandelli, José Anastácio da Cunha, José Liberato Freire de Carvalho, Domingos Sequeira:. A Maçonaria nacional recrutava-se, sobretudo, entre a oficialidade do exército e da marinha, o professorado, o comércio e a infústria, a burocracia civil e eclesiástica:. Em menor percentagem existiam irmãos clérigos e aristocratas terratenentes:. Era, em suma, a burguesia esclarecida quem sobretudo preenchia os lugares das oficinas:.