Verdade… Etérea harpista de Sol que ritualiza em seu mavioso tocar o florir do dia numa Primavera de Luz, mera melodia de manhãs intemporais, cuja harmonia divina recria a ordem universal, inebria a humanidade com a sabedoria ancestral, semeia no jardim do mundo a rosa da justiça e coroa a árvore da vida com as excelsas flores do equilíbrio cósmico…
No Antigo Egipto, longe de constituir um conceito trivial isento de sentido ou alma, quiçá uma utopia impressiva banalizada pelo tempo, a “Verdade” surgia como o mais sublime caminho para a fruição espiritual. Encarnada pela deusa Maet, a verdade é assim sinónimo de rectidão, lealdade, justiça, em suma, de todos os princípios básicos que asseguram não apenas o equilíbrio cósmico, mas igualmente o aperfeiçoamento intelectual e espiritual do indivíduo. É, por conseguinte, graças ao equilíbrio oferecido por Maet que o mundo organizado mantém a sua integridade e o Universo conserva a harmonia que lhe fora concedida no acto da Criação. Maet parece suspirar-nos que a verdade, a vida e o conhecimento deveriam constituir a nossa religião primordial, que a Justiça deveria por nós ser eleita dogma universal e o que bem e a liberdade deveriam ser abraçados como a base das nossas preces. A deusa Maet, simultaneamente filha e mãe de Rá, num eterno reinventar de um cosmos renascido, era representada como uma jovem elegante, portadora de uma cabeleira que acariciava graciosamente os seus ombros. Na sua cabeça, a deusa ostentava uma pena de avestruz, empregue igualmente pelos egípcios de forma isolada, como símbolo da deusa Maet (nome próprio ) ou do conceito de verdade em si (nome comum). Em suas mãos, a deusa acolhe alguns dos mais eficazes símbolos profilácticos, como é o caso do uase ou uadj, ceptros também empunhados por diversas outras deidades do panteão egípcio.
Principio sagrado entre os egípcios, Maet consistia num rito incontornável não apenas para os simples mortais, mas também para os faraós e até mesmo para os deuses. Com efeito, a maviosa melopeia entoada por esta deusa era brisa sagrada que alimentava, inebriava e renovava os sentidos das restantes deidades, permitindo-lhes assim preservar a harmonia universal que ela encarna. O culto diário prestado aos deuses conhecia o seu apogeu com a oferta de Maet. Relevos de determinados templos tardios permitem-nos conquistar o tempo e, na mais sagrada lacuna da Imaginação, reviver as intrínsecas cerimónias do ofertório, legadas à eternidade nas paredes do mais íntimo dos santuários. Extasiados, quase abraçamos a prerrogativa de encarnar o sacerdote oficiante, eterno representante do faraó, que num rito pleno de magia oferece Maet, sob a forma de uma figurinha transportada num pequeno cesto, à deidade local, saciando assim a sua sede no cálice da ordem Universal, que o entoar de um hino derrama docemente: “(…) Salve a ti, que estás provido de maet, autor do que existe, criador do que és. (…) Tu surges com Maet, tu unes os teus membros em Maet (…)”. É de facto graças a este ritual de uma beleza inefável que Maet, não residindo em nenhum templo específico, se encontra presente em todos os santuários do Vale do Nilo.
Com efeito, nem mesmo o poderoso Rá, mítico regente dos deuses, subsiste quando privado do melífluo fruto da Verdade, pois somente o néctar que dele resvala sacia a sua sede de harmonia, alimenta o seu esplendor e renova a luz que o nimba num halo de espiritualidade (“Tu existes porque Maat existe”, como refere um hino). De resto, era igualmente Maet quem se propunha a confrontar todos os inimigos de Ámon, fulminando-os com a sua cólera, a fim de jamais permitir que o fastígio do deus- solar fosse obnubilado. Não constitui assim qualquer surpresa constatar a presença de Maet na viagem amoniana. Embora somente ao deus- sol fosse concedido o apanágio de desfrutar intimamente da companhia de Maet, muitos outros deuses deixavam-se inebriar pela rima perfeita que a deusa concedia ao sublime verso do cosmos, como é o caso de Toth, que era com alguma frequência contemplado como esposo (ou por vezes irmão) de Maet, dada a sua invejável posição enquanto epítome celestial da precisão, justeza e rectidão. Enquanto Maet zelava pela harmonia celeste, na terra era o regente quem se encontrava incumbido do dever divino de conservar a ordem social e perpetrar as leis “maéticas”, dispondo para tal de um completo corpo de funcionários, de entre os quais se destacava o vízir. Na função de garante da ordem moral, da justiça e da verdade, o vízir, chefe do poder executivo e de toda a área administrativa, abraça o epíteto de “Sacerdote de Maet”, ostentando como insígnia uma pequena figurinha da deusa, geralmente esculpida em lápis- lazuli.
Como aqueles que coroavam o céu da humanidade com o arco-íris da liberdade, da verdade, da justiça e da equidade dos sentidos, os faraós não só não dispensavam maet no seu quotidiano, como também nos seus nomes reais, incluindo assim a deusa ou o próprio conceito que ela encarnava nas suas denominações, na ânsia de que assim lhes fosse concedida a eficácia necessária para uma regência próspera. Podemos evocar o exemplo de Hatchepsut, rainha do Império Novo, cujo pronome não era senão “Maatkaré”, ou seja, “Maet é o alimento de Rá” ou “Maet é o ka (poder criador) de Rá. A sublime praia de Maet, graciosamente formada pelos mais rutilantes cristais de Sol, oferecia-se a todas as almas náufragas que se propusessem a brincar nas ondas de sabedoria ancestral do imponente mar do conhecimento. Para que a espírito algum o acesso a estas águas ornadas de magia fosse negado, os sábios egípcios (como os faraós Amenemhat I e Hor- djedef, filho do famigerado Quéops, entre muitos outros) elaboraram os “Ensinamentos”, fulgurantes estrelas de sabedoria destinadas a guiar a humanidade através da enigmática noite da vida. A leitura destes textos de valor incontestável permite-nos abraçar os fundamentos da solidariedade, da equidade, da justiça e da espiritualidade, indispensáveis para a criação de uma sociedade recta, harmoniosa e subversivamente oposta a isefet, ou seja, ao caos, à desordem, enfim, à pravidade em todos os seus subterfúgios e formas. Logo, todos devem respeitar aquilo que Maet representa, para possibilitar o retorno dos fenómenos naturais que garantem a vida e a vitória sobre as forças do caos que pairam ainda sobre a humanidade.
A presença de Maet, embaixatriz da Verdade e da Justiça, revelava-se vital para o bom funcionamento do tribunal osírico, uma vez que, caso privados da sua benção, os defuntos seriam alvo de um julgamento iníquo e imparcial. Conduzidos por Anúbis, o deus da cabeça de chacal, os defuntos compareciam diante do tribunal de Osíris, onde as suas almas seriam julgadas, revelando o seu destino. O tribunal divino erigia-se na “Sala das duas Justiças”, intermediária entre o além e o submundo, rodeada por 42 demónios (este valor estava relacionado com o número de distritos- 42- que dividiam o Egipto Antigo). Perante cada uma destas temíveis entidades, o morto deveria declarar-se inocente de um pecado, resumindo-se estas 42 faltas em algumas categorias distintas: blasfémia, perjúrio, assassínio, luxúria, roubo, mentira, calúnia e falso testemunho. Para alcançar a absolvição, os réus deveriam não somente afirmar que haviam alimentado os esfomeados, saciado a sede dos sequiosos, entregue roupas àqueles que não as possuíam e concedido auxílio na travessia de um rio a quem não detinha qualquer embarcação, mas igualmente permitir que o seu coração fosse pesado, uma vez que este representava, para os egípcios, o cerne real da personalidade, a base da razão, da vontade e da consciência moral. Desta forma, sobre a vigilância de Anúbis, o coração do defunto (ib) é depositado num dos pratos de uma balança, confrontando o seu peso com o de uma pena de avestruz, símbolo de Maet. Esta prova, a que ninguém se pode eximir para aceder ao reino de Osíris, permite determinar se a alma do defunto se encontra em conformidade com Maet, isto é, se de facto, nela impera a harmonia oferecida pelo cumprimento das normas morais e espirituais que regem a sociedade.
Enfim, os resultados seriam registados por Toth, deus da escrita, para, em seguida, serem comunicados por Hórus a seu pai Osíris, que absolveria o morto, caso os dois pratos se equilibrassem ou se o seu coração se revelasse mais leve do que a pena. Neste caso, seria oferecido ao falecido um sublime paraíso, localizado a ocidente, onde as espigas de trigo elevavam-se a muitos metros do chão e a vida irradiava uma felicidade ímpar e desmedida. Todavia, a “Grande Devoradora”, um misto aterrador de crocodilo, pantera e hipopótamo acha-se, igualmente, presente em todos os julgamentos esperando, impacientemente, pelo deleite de tragar todos aqueles, cujo coração detivesse um peso excessivo. Atormentados com a perspectiva das suas quimeras de ressurreição serem, abruptamente, devastadas pelo aniquilamento das suas existências, os Egípcios entregavam-se, ao longo das suas vidas, a um imensurável rol de precauções. Deste modo, com o fito de auxiliarem os mortos na sua derradeira diligência ao Império dos Mortos, surgiram inúmeras fórmulas mágicas, que, gradualmente, se reuniram no famigerado “Livro dos Mortos”, cujo conteúdo era inculcado num rolo de papiro (embora anteriormente fosse apenas gravado nos caixões ou nas paredes)colocado nos túmulos, junto dos cadáveres. Na realidade, inicialmente apenas os faraós poderiam usufruir das referidas fórmulas de encantamento, mas, mais tarde, estas proliferaram-se, igualmente, pelos funcionários e sacerdotes mais bem sucedidos, que, assim, poderiam, enfrentar os inúmeros demónios, emergidos das trevas sob a forma de serpentes, crocodilos gigantes ou dragões, ao longo de toda a viagem. Porém, devido aos seus elevados custos, o “Livro dos Mortos” manteve-se inacessível para as classes mais pobres.
Aqueles que o procuravam, poderiam adquirir o “Livro dos Mortos”, totalmente pronto, restando-lhes apenas acrescentar o nome do proprietário. A crença popular referia que este documento havia sido concebido pelo próprio Toth, que oferecia aos viajantes o meio de afastarem-se de um passo em falso. Por exemplo, ao serem abordados por um crocodilo, os defuntos deveriam pronunciar as seguintes palavras: “Passa de largo! Vai-te, crocodilo maldito! Tu não te aproximarás de mim, pois eu vivo de palavras mágicas, nascidas da força que está em mim!”. Porém, fundidos com estas fórmulas, também foram registados no “Livro dos Mortos” pensamentos dogmáticos, como o apresentado, seguidamente “O homem deverá ser julgado pela forma como se conduziu na Terra”, que representa uma clara divergência para com os restantes textos, divergência esta que pode ser explicada pelo facto desta obra não merecer, de todo, o epíteto de homogénea, uma vez que os seus capítulos acompanharam os díspares estados de evolução das ideologias egípcias. Com efeito, as partes mais antigas desta obra surgem nas paredes da pirâmide do faraó Unas, derradeiro soberano da Quinta Dinastia, enquanto que as mais recentes datam do século VII a.C. Embora não correspondessem já às concepções religiosas dos Egípcios, os textos mais arcaicos do “Livro dos Mortos” nunca foram retirados do mesmo, graças ao respeito que esta civilização dedicava a tudo o que pertencia ao passado. Como consequência, esta obra tornou-se, progressivamente, num espelho reflector da evolução da religião egípcia.
Detalhes e vocabulário egípcio: Ao longo de aproximadamente cinco séculos (de 1550 a 1070 a. C.), subsistiu no Antigo Egipto uma confraria, constituída por homens e mulheres extraordinários, simultaneamente artesãos e sacerdotes, da qual brotaram muitas das obras- primas da arte egípcia. Esta confraria, expoente máximo da espiritualidade aliada à criatividade, viveu numa aldeia do Alto Egipto, interdita a profanos, cujo epíteto verdadeiramente excepcional é merecedor da nossa atenção: “Lugar da Verdade”, ou seja, “Set Maet”. O eterno cosmos onde a constelação de Maet reinventava a harmonia da sua luz, de forma a alumiar o universo com uma ordem espiritual inabalável, ainda se oferece ao nosso olhar, caso visitemos a localidade de Deir el- Medina, a oeste de Tebas. Lá, somos tentados a sonhar com todas as obras- primas que a mão humana, orientada pelo ritmo divino, forjou e imortalizou. Com frequência, deparamo-nos com as palavras Maet e maet escritas de forma verdadeiramente díspar. Consoante o autor, Maet é apelidada de Maat, Ma-a-at, Majet, Mayet, Maät, etc. Segundo a fracção mais numerosa de egiptólogos envolvidos nesta altercação, Maet, ou seja, a grafia empregue neste artigo, é a mais correcta. Porém, iníquo seria não salientar que egiptólogos tão prestigiados quanto William Hayes e Cyril Aldred optam pelo uso de Maat, grafia apresentada no início do séc. XX. Na escrita hieroglífica, a deusa Maet surge como uma figura ajoelhada, ostentando a sua característica pena de avestruz na cabeça e o signo ankh (símbolo da vida) sobre os joelhos.
Em todos os processos evolutivos que passamos ao longo da vida, nós sofremos algum tipo de ruptura ou frustração, e a primeira ruptura que vivemos é justamente o momento do nascimento. O nascimento é um dos maiores traumas humanos. Inclusive, é um dos temas mais recorrentes no universo da psicanálise.
Em todos os processos evolutivos que passamos ao longo da vida, nós sofremos algum tipo de ruptura ou frustração, e a primeira ruptura que vivemos é justamente o momento do nascimento. O nascimento é um dos maiores traumas humanos. Inclusive, é um dos temas mais recorrentes no universo da psicanálise.
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Tenho verificado que a cultura na Maçonaria está muito aquém. O quadro é simplesmente desolador. O maçom em geral tem, em média poucos anos de estudo, não lê, não estuda e nada sabe. E o que tem esse fato a ver com a Maçonaria? Tudo! Não é possível realizar novos progressos sem o auxílio da cultura e do saber.
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