O HOMEM E A LIBERDADE

“Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda”
Cecília Meireles

Liberdade não implica em falta de educação, ninguém precisa ser inconveniente ao meio para conseguir ser livre, mas deve impedir que o meio seja inconveniente a si para roubar-lhe a liberdade. Para Sartre o homem é a sua liberdade e está condenado a ser livre.

Condenado porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto é livre, uma vez que foi lançado no mundo é responsável por tudo que faz. Segundo Jaspers, só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou plenamente eu mesmo. Assim será o indivíduo autêntico, autônomo.

Ser e fazer implicam em liberdade. A condição primordial da ação é a liberdade. Liberdade é essencialmente capacidade de escolha. Onde não existe escolha não há liberdade. O homem faz escolhas da manhã ‘a noite e se responsabiliza por elas assumindo seus riscos (vitórias e derrotas). Escolhe roupas, amigos, amores, filmes, músicas, profissões… A escolha sempre supõe duas ou mais alternativas; com uma só opção não existe escolha nem liberdade.

As escolhas nem sempre são fáceis e simples. Escolher é optar por uma alternativa e renunciar ‘a outra ou ‘as outras. Não existe liberdade zero ou nula. Por mais escravizada que se ache uma pessoa, sempre lhe sobra algum poder de escolha. Também não há liberdade infinita, ninguém pode escolher tudo.

Na facticidade somos limitados, determinados. Um ótimo exemplo nos é dado por Luís Fernando Veríssimo quando descreve: “Poderia se dizer que livre, livre mesmo, é quem decide de uma hora para outra que naquela noite quer jantar em Paris e pega um avião. Mas, mesmo este depende de estar com o passaporte em dia e encontrar lugar no avião. E nunca escapará da dura realidade de que só chegará em Paris para o almoço do dia seguinte. O planeta tem seus protocolos.

O ato livre é, necessariamente, um ato pelo qual se deve responder e responsabilizar-se. Porque sou livre tenho que assumir as conseqüências de minhas ações e omissões.

Os animais irracionais não são livres, não são responsáveis pelo que fazem ou deixam de fazer. Ninguém pode condenar um cavalo que lhe deu um coice. O animal não faz o que quer e sim o que precisa ou o que se encontra determinado pelo instinto de sobrevivência para que continue existindo.

O próprio vôo livre de um pássaro está sujeito ‘as leis da física. Kant brincava com essa idéia, imaginando uma pomba indignada contra a resistência do ar que a impediria de voar mai depressa. Na verdade, argumenta, é justamente essa resistência que lhe serve de suporte, pois seria impossível voar no vácuo.

“Não me apontes o caminho,
o rumo certo pra chegar ao cimo.
Deixa-me encontra-lo para que seja
meu…
Não me reveles a mais brilhante estrela,
Aquela que te guia.Eu buscarei a minha…

Não me estendas a mão quando eu cair.
Em tempo certo, em hora exata,
Eu ficarei de pé…

Não te apiedes de mim.
È minha estrada, é minha estrela,
É meu destino.

Deixa apenas que eu seja.
Sem ti…”
Eliette Ferreira

O homem para Sartre não pode ser ora livre, ora escravo. Ele é totalmente e sempre livre, ou não o é. A liberdade não é alguma coisa que é dada, mas resulta de um projeto de ação. È uma árdua tarefa cujos desafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando os riscos de perda de liberdade pelo homem que se acomoa não lutando para obtê-la.

Elí José Cesconetto,
M.’.M.’., A.’.R.’.L.’.S.’. Vale Do Tijucas 2817, Tijucas (SC) – Brasil.

Bibliografia:
Estudos sobre Psicoterapia Existencial – Dora Lúcia Alcântara
Sartre
Luis Fernando Veríssimo