Quando a mente está adormecida ou entorpecida, é preciso despertá-la;
Quando se distrai, será necessário trazê-la de volta;
Quando se apega demais, fazer vê-la outras possibilidades;
Quando atingir o equilíbrio, manter sem desviá-la.
Essas afirmações são contundentes e de caráter evolutivo, pois, proporcionam um caminho seguro e equilibrado para a dinâmica pessoal diária. Pergunta: será necessária uma prática diferenciada no conjunto da dinâmica que vivemos apesar de nossa “impecável” formação pessoal? Sim, com certeza! Estamos tão envolvidos no processo da existência e sobrevivência que nos afastamos de nós mesmos. Sempre procuramos as soluções de nossos problemas e dificuldades fora de nós, no outro, no próximo, profissional ou amigo, quando todas as possibilidades de desfecho estão dentro de nós, no nosso íntimo, em nosso interior.
Nossa Ordem proporciona essa possibilidade em seu conjunto. Conjunto esse com regras, disciplina, ritual, simbologia, cargos e funções empurrando nossa personalidade para aprimorar o caráter e a conduta. Dentro da Loja, somos envolvidos em responsabilidades que –por vezes- não desejamos assumir e nos vemos praticando funções que sutilmente nos despertam para um novo estado de ser.
Nossas atividades e conteúdo maçônicos são expressos de maneira prática e objetiva proporcionando uma oportunidade de abrandar nosso ego, talvez até submetê-lo e dominá-lo; e isso não quer dizer submissão ou aceitação passiva dos obstáculos e exigências que enfrentamos durante nossos trabalhos e durante nossa vida, representa sim uma ação com equilíbrio consciente que pode se manifestar até num recolhimento cuidadoso (um agir não agindo, escolhas); temos que procurar entender ou aceitar que uma atitude silenciosa ou “não manifestação”, não significa aceitação ou consentimento com situações ou obstáculos.
No âmago do ser humano, na sua Alma (1) só tem uma condição: sua liberdade. Não é a liberdade objetiva ligada aos nossos sentidos ou sensações e vontades, mas, uma liberdade interior, a grande tarefa de assumir sua verdade pessoal, o “Conhece-te a Ti Mesmo”, o auto-descobrimento. Esse é nosso trabalho, e quem não o faz é porque não deseja, pois, tem todas as possibilidades de fazê-lo com as ferramentas disponíveis pelo processo maçônico; temos que fugir da “inércia mental” assumindo o controle de nossa existência interior.
“As leis da vida social atualmente mudam a cada minuto. Não há mais segurança no conhecimento de alguma lei moral que foi comunicada. É preciso buscar os próprios valores e assumir responsabilidade pela nossa própria conduta, e não simplesmente seguir ordens transmitidas de algum período do passado. Ademais, estamos intensamente cientes de nós mesmos como indivíduos, cada um é responsável pela sua própria senda, diante de si mesmos e de seu mundo.” (Joseph Campbell)
Somos motivados desde nosso ingresso a procurar a Luz (2), devendo constituir-se como meta de nossos interesses. Só podemos nos aproximar de outras dimensões (3) provocando um desapegado de nossa mente comum levando-a a outras condições ou situações em que encontra-se distraída ou afastada, e assim, quando tivermos a convicção de que nossos preceitos e postulados são verdades para nós e para todo ser humano, uma forte convicção que não precisa da razão para impor-se, estaremos exercitando ou experimentando uma sabedoria que tem a força de uma corrente da qual somos um elo; e essa ligação torna-se mais forte pelo trabalho das Lojas em seus diversos ritos que podem ter diferenças, mas com pouca alteração (4).
Neste atual estágio evolutivo que nos encontramos, nosso contato objetivo se faz através de nossos sentidos, pois, através deles recebemos as informações e estabelecemos valores, é um bombardeio de impressões e nossa mente acaba flutuando continuamente nesse mar de estímulos.
E sendo ela dinâmica e estar em constante estado de alerta recebendo informações incessantes e ininterruptas fica difícil haver um controle adequado e consciente, tornando essas impressões imprecisas e enganosas podendo distorcer e até limitar o conhecimento, sendo necessário ultrapassá-las despertando outras possibilidades latentes, mas adormecidas.
E para que isso aconteça, para ascendermos a um plano mais sutil, subjetivo, a “busca da verdade”, o “tirar o véu”, deve ser motivada pelo desejo de alcançar a sabedoria e o método é assimilação (5) e não simplesmente pela retenção na memória do conteúdo apresentado.
Essa transformação da mente para a prática ou interiorização dos conceitos transmitidos é lenta necessitando sempre uma reflexão sobre a simbologia apresentada. Devemos passar de “teóricos” e passarmos a “construtores” do edifício social, ajudantes edificadores da humanidade em marcha para um mundo melhor e mais esclarecido.
José Eduardo Stamato – M.’.I.’.
A.’.R.’.L.’.S.’. Horus nº 3811, Santo André – SP / Brasil
Notas:
(1) Alma – essência sublime intermediária entre a vida do espírito e a vida objetiva infusa no ser humano, que procura integrar a personalidade num processo superior progressivo de transformações para que perceba que é parte de um todo maior, ainda nesta existência.
(2) Luz – como possibilidade (hoje simbólica) apresentada para uma busca e um despertar para dimensões superiores de consciência. Como exemplo, o Sol dispersa a noite, a chama de uma vela afasta a escuridão, portanto a “luz” tem poder sobre as trevas (o que seriam as “trevas”?).
(3) Dimensão (termo muito utilizado nos grupos esotéricos) – planos expandidos diferentes na sua constituição, mas semelhantes na expressão, podendo ocupar espaços distintos ou não, coexistindo em diversas frequências vibratórias.
(4) Isso se vencermos a vaidade da afirmação de que o Rito que praticamos é o “eleito” ou o “escolhido” ou o “verdadeiro”. O mesmo acontece com as Lojas.
(5) Assimilar – do latim: tornar semelhante a si, integrar a si. Só aproveitamos aquilo que assimilamos. Há uma integração e adaptação progressiva na dinâmica proposta pelo ritual e sua simbologia.
Bibliografia:
“Isto és tu”, Joseph Campbell – Landy Editora