Transportam consigo a ciência do traço, o número e a regra no maior dos segredos. Quando partem, no céu são as estrelas que iluminam na terra os seus irmãos, transmitindo-lhes força, para que continuem fiéis aos seus ancestrais princípios.
Eles, os maçons, não querem nem precisam do poder dos profanos, porque são o Poder que reconhece nos lugares sagrados a encarnação do divino na matéria. A cinzel, deixaram as suas marcas nas mais magníficas catedrais góticas da Idade Média que o mundo conhece.
Com o esquadro e o compasso estabeleceram planos, traçaram desenhos, calcularam e realizaram a obra que o Rei Salomão quis erguer, para louvar e honrar a memória do Deus de seu pai, o bíblico rei David, – o 1º Templo – em Jerusalém, guardião da Arca da Aliança que continha as Tábuas da Lei.
Senhores da Espada Flamejante dos Cavaleiros; do Triângulo do fogo ou da água; do divino Delta Luminoso e da Pedra Cúbica; rectos como fio-de-prumo, escolhidos para transmitir a Luz. Nos seus templos, Colunas unem a terra com o céu, entre elas trocam segredos; e sobre elas colocam o fruto da união – como uma dádiva, bagos como favos de mel, sã a bela e perfeita Romã. No círculo mágico da sua Cadeia de União, na matéria geram energia, que eleva o espírito nas ocultas decisões, como uma barca se move na bruma sem se ver.
Procuram a verdade Universal, sobrepõem a espiritualidade ao materialismo, defendem a liberdade e os direitos humanos, a intimidade e convicções pessoais, solidários com os desfavorecidos querem a fraternidade entre os homens, tolerantes, de isenção política e religiosa, buscam o aperfeiçoamento individual, em democracia anseiam a paz entre os povos, defendem a natureza e o Universo.
Juntam a lua com o sol, no brilho do orvalho da manhã, crescem na construção do seu próprio templo interior, onde um céu salpicado de estrelas, os leva para outra dimensão. Na sua fortaleza, tecem com fios de espectros, o deslumbramento da alma no seu Deus revelado. Há quem diga que a Biblía é um documento de inspiração maçónica. Há quem associe o ínicio da Maçonaria à construção do Templo, na época do Rei Salomão, ou que a coloque na alma dos arquitectos egípcios que ergueram as grandes pirâmedes da história.
Amados e odiados, temidos e cobiçados, os maçons desde sempre foram perseguidos, e desde sempre resistiram às maiores atrocidades cometidas contra si. Perpectuando no tempo, a sábia espiritualidade da alma numa dimensão atemporal, em corpos geométricamente concebidos, pela Mão de Deus. São a expressão vísivel do invisível, mantendo no seu poder a essência sagrada.
Nem Hitler, com a sua gigantesca maquinação conseguiu extorquir-lhes os mais ocultos mistérios. Nem na Idade Média, Filipe IV (o Belo), rei de França, os desmantelou, quando a 13 de Outubro de 1307 desencadeou a perseguição a todos os membros da Ordem. É então que os Cavaleiros Templários saem de França. Sendo acolhidos noutros países, (em Portugal a Ordem dos Templários foi reformulada em Ordem de Cristo), mas um grande grupo de cavaleiros ao fugir de França, consegue ir rumo à Irlanda e Escócia.
Até meados do séc. XVIII, a maçonaria foi operativa, pois os maçons eram construtores, e é pela época em que o mais antigo e importante documento maçónico, denominado pelas “Constituições de Anderson” é concebido – 1723, que passa a ser especulativa. A origem do Rito Escocês Antigo e Aceite é posterior ao final do século XVII inícios de XVIII, sendo antes o rito mais antigo o de York.
Nos inícios da maçonaria, existiram algumas lojas de adopção só de homens, em que as mulheres em certas circunstâncias podiam assistir. No século XIX, como consequência do movimento reivindicativo feminista, formaram-se lojas femininas e mistas; embora em França a Grande Loja Feminina exista apenas acerca de 60 anos e em Portugal há aproximadamente 5 anos. Todavia ambas as maçonarias, masculina e feminina são guardiãs da mesma tradição segundo o R.E.A.A., e por isso usando dos mesmos símbolos, e praticando os mesmos ritos e rituais, até à actualidade.
Os maçons reúnem-se em Grandes Lojas ou Loja, onde cada irmão tem o seu Grau correspondente – basicamente (aprendiz, companheiro e mestre).
Após terminarem as sessões rituais de Loja, segue-se habitualmente o ágape, e no seu decurso bebe-se vinho, e com ele se fazem brindes, sendo que o vinho na Maçonaria tem um valor simbólico, remetido à fraternidade do espiritual, e relativamente às circunstâncias em que é ultilizado, varia conforme ritos e rituais exercidos.
No decorrer de um processo de sagração maçónica, de um espaço devidamente decorado para poder ser caracterizado como um Templo Maçónico, é utilizado um ritual que evoca a construção do Templo de Salomão, assim, de uma ânfora de vinho tinto, faz-se derramar um pouco do mesmo sobre o quadro do tapete do Templo, que simbolizará a alegria que deve reinar entre os irmãos.
No início de um Ágape Maçónico
Ágape é o nome atríbuido a uma refeição maçónica, geralmente um jantar que se segue a uma reunião de maçons, ritualmente desenvolvida na respectiva loja, ou em assembleias magras da Grande Loja, que reúnem além do Grão-Mestre, representantes de todas as lojas.
No início de um Ágape, um maçon designado para o efeito, profere uma evocação simples, na qual é acompanhado por todos os presentes, em que toma numa mão um copo de vinho tinto e na outra um pedaço de pão, explicando que o vinho simboliza o espírito e o pão a matéria, ambos devem ser partilhados, em solidariedade para com os desfavorecidos, que sofrem por falta de bens espirituais ou materiais.
Iniciada a refeição ou banquete maçónico, em que podem participar também senhoras e familiares dos maçons, normalmente e de forma ritual, desenvolvem-se sucessivamente no tempo, e sequencialmente três tipos de brindes com o vinho:
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– Chefe de Estado (Presidente da República em Portugal, e por exemplo em Inglaterra á Raínha, e em Espanha ao Rei);
– Soberanos e Chefes de Estado que em todo o mundo protegem a maçonaria;
– Grão-Mestre; (ou Venerável Mestre);
– Grandes Oficiais;
– Aos ilustres visitantes;
– Ás Senhoras.
a) Por iniciativa do Venerável Mestre, no caso de um ágape de responsabilidade de uma Loja, ou de um Grão-Mestre no caso de um ágape da Grande Loja, este pode tomar a palavra para distinguir algum irmão presente (e sua mulher, se estiver acompanhado), em que o saúda, e brinda do seu lugar, levantando-se, erguendo o copo e a taça, depois do Mestre-de-cerimónias anunciar solenemente que o Venerável, ou o Grão-Mestre deseja “beber vinho com”, ou brindar ao homenageado em causa, que igualmente de pé, retribui o brinde, e em silêncio, bebe da taça simultaneamente.
b) Por ordem do maçon que preside ao banquete, e depois de servido o primeiro prato (ou entrada), o Mestre-de-cerimónias propõe ou indica, quem vai propor uma série ritual de brindes proferidos, espaçadamente e sucessivamente, destinado ao:
Após estes brindes rituais, abre-se um período de brindes livres, em que qualquer maçon presente, pode propor um brinde de sua iniciativa.
c) Finalmente, no encerramento de ágape maçónico, existe um brinde simbólico denominado brinde das 11 horas, que evidencia pela posição dos ponteiros, o aspecto de um compasso prestes a fechar-se, o que ocorre à meia-noite pela sobreposição dos ponteiros.
Todos os maçons presentes, de pé, erguem então as suas taças de vinho, e respondem em uníssono: “ A todos os maçons”.
Em algumas ocasiões, quem preside ao banquete maçónico pode retribuir este brinde. Levanta-se, e de frente para o aprendiz, estando este com a taça erguida, toca-a com a sua, e declara: “meu irmão – eu não sou mais que tu”; de seguida tocam-se outra vez as taças, e declara: “meu irmão – tu não és menos do que eu”; depois, pela terceira vez, tocam-se as taças, e declara: “meu irmão, tu e eu somos iguais, bebamos juntos”, e de seguida, entrelaçam os braços e bebem simultaneamente. Os irmãos presentes saúdam este final com uma salva de palmas.
Qualquer das sessões de Loja ou de Grande Loja, são realizadas em espaços privativos ou reservados. Os ágapes maçónicos, embora possam também efectuar-se em restaurantes públicos, o local escolhido deve ser recatado e discreto, utilizando terminologia ritual.
Os brindes maçónicos são sempre feitos com vinho tinto, (pólvora negra) e de pé. Os copos são levados à boca de forma pausada e ritmada, que começa com o alinhar dos canhões (copos), apresentar armas, e apontar. São retribuídos por todos os maçons com a expressão “Fogo”, excepto no brinde às senhoras, em que também em uníssono proclamam “ás Senhoras”.
Feito o brinde, bebido o vinho de forma ritual, em três tempos, (fogo, bom fogo e fogo à vontade), o copo retoma a sua posição na mesa, também com gesto ritual, sequencial, em três tempos, terminando com o pousar do copo, simultâneo com um ruído seco.
Não conheço homem mais enigmático que o maçon.
Não há bebida mais nobre que o vinho.
Não há homem de rectidão mais implacável que o maçon.
Por isso a sua união é harmoniosamente perfeita.
A sabedoria conhece o que é Sagrado, e sabe que não deve ser profanado.
Há segredos que a Natureza e algumas mentes humanas luminosas, no seu imenso poder, jamais revelarão.
Maria Paula Boloca Carvalho Vendrell
Eng.ª T. Agro-Alimentar (Área – Enologia)
Contacto da autora: mp.escocia@hotmail.com
Agradecimentos:
Ao Venerável Dr. Luís Nandim de Carvalho, pela sua simpatia, pelo seu comportamento de verdadeiro maçon na disponibilidade prestada, por tudo o que com ele aprendi, pela indicação de documentos sobre maçonaria, e documentos cedidos sobre os rituais do vinho na maçonaria, que tornaram possível a realização deste artigo.
À Dra. Olga Maria Serra, pela paciência com que me ensina tantas coisas sábias.