OS FRANCO-MAÇONS E A SOCIEDADE PROFANA

Uma das questões que, recorrentemente, oiço colocar por parte de Mestres Franco-Maçons recentemente iniciados, refere-se à participação da Maçonaria na sociedade profana. Existe uma urgência, facilmente entendível, por parte dos nossos novos membros, no sentido de uma visibilidade da Maçonaria perante o sucedâneo de acontecimentos que o quotidiano nos vai transmitindo, bem como perante uma certa vertigem de afirmação dos nossos valores no exterior da Nobre e Augusta Ordem Maçónica.

É claro que entendo perfeitamente esta “urgência”, já que, quer os partidos políticos, quer a(s) igreja(s), através do(s) seu(s) Papa(s) o fazem, como velocípedes escorrendo sobre mel.

Permito-me, contudo, questionar esta posição, obviamente empenhada e correcta, mas não numa perspectiva Maçónica. Vejamos. Um Maçon é reconhecido pelos seus Irmãos. Não pela sua Obediência, não pela sua Loja, mas apenas pelos “seus Irmãos”. Nisto reside, a meu ver, a essência da Franco-Maçonaria Universal. São os meus Irmãos que me reconhecem e não uma qualquer Obediência, mais ou menos “papista”, mais ou menos “institucional”.

Por outro lado, iniciado numa Loja Justa e Perfeita, qualquer Maçon se deve situar no seu seio, não de modo “obediente”, mas na plena consciência dos seus deveres e dos objectivos do seu trabalho: o trabalho sobre a pedra bruta, que nada mais é do que o seu aperfeiçoamento espiritual e, por conseguinte, o seu aperfeiçoamento como Homem, cidadão, agente e motor imediato e mediático na comunidade profana. Um Franco-Maçon é, pela própria natureza do acto iniciático que o instituiu, um filantropo, naturalmente solidário com todos os seres humanos e com todas as manifestações da natureza e, como tal, um participante instrutor, um cidadão lúcido e actuante.

Não se trata, assim, de verter a Maçonaria sobre uma actuação no mundo (profano), mas, antes de mais, da criação de Maçons que, por serem já actores nesse mesmo palco, buscam o seu aperfeiçoamento, que constituirá subsequente aperfeiçoamento da sociedade que frequentam e na qual influem. A sua conduta no ecossistema que habitam e no qual agem, será obviamente a melhor forma de intervenção.

É claro que os Maçons podem e devem ser interventores, nomeadamente nos hiatos criados pela sociedade profana, interagindo com eles, obturando os vazios que os poderes políticos e económicos vão esquecendo. Foi necessária a criação de escolas quando o Estado as ignorava. Foi necessária a criação de faróis de valores, sempre que a “res” pública os ignorou. Num estado de direito actual como o nosso, caber-nos-á mais lembrar do que criar. Isto é, já não faz sentido a criação de instituições como o Internato de S. João ou a Sociedade Promotora de Escolas, em pleno Século XXI, em que os cidadãos estão conscientes dos seus deveres e direitos nesta esfera. Fará, contudo, sentido, a participação dos Maçons nestas competências do Estado e das restantes instituições, bem como a determinação de objectivos sistemáticos a cumprir por parte das instâncias, públicas ou privadas que, para tal, estão orientadas.

Quero com isto dizer que o Grande Oriente Lusitano não deve nem precisa de ter, por exemplo escolas, mas sim professores Maçons aptos a nelas intervir no sentido dos nossos valores. Çá, par exemple!

É na “conduta social dos Maçons”, mais do que na capacidade organizativa da Obediência, que deve residir o nosso Trabalho. E este, só pode ser formado e informado por um cada vez maior rigor na nossa formação, ou seja, no sistemático trabalho sobre a pedra bruta que o Ritual de Loja significa e encarna.

Mais importante do que a urgência e a “vertigem” de querer ver trabalho desenvolvido pela Obediência e pela Loja, é o rigor do desempenho do Trabalho de cada Respeitável Loja, no sentido da formação dos seus Obreiros. É preferível um bom punhado de Maçons de formação especulativa do que um ou dois maus Maçons supostamente operativos! Todo o Franco-Maçon instruído numa Loja rigorosa nos seus trabalhos se tornará um Maçon verdadeiramente operativo na sua acção e inserção no mundo Profano.

Porque nos encontramos em ano de eleições para o Grão-Mestrado e porque este é um assunto sensível na nossa como em todas as outras Obediências, gostaria de deixar aqui bem clara a minha opinião sobre o assunto:

1. Um Grão-Mestre não é e não poderá nunca ser um Papa ou um líder de opinião, sob pena de contribuir para o esvaziamento do sentido livre pensador da Maçonaria e dos Maçons;
2. A Franco-Maçonaria ou uma Obediência não deve nunca emitir opiniões ou liderar acções. Compete aos Franco-Maçons, como cidadãos, esse papel;
3. A Maçonaria ou as Obediências não devem, nunca, tomar iniciativas filantrópicas, solidárias, ou instrutivas junto da sociedade Profana. Isso é competência exclusiva dos cidadãos, preferencialmente Maçons;
4. É competência das Obediências, dos seus Grão-Mestres e demais luzes velar pelo regular funcionamento das Lojas, para que estas se constituam em verdadeiras instituições formativas de cidadãos aptos a distinguir-se, no mundo profano, pelo seu exemplo, pela sua ética pela sua profícua acção sócio-profissional.

Não é a Maçonaria que interage com a sociedade profana: são os Maçons que o fazem e devem fazer. Isto para mim é muito claro. A Maçonaria é, ou deverá ser uma ESCOLA, no verdadeiro, legítimo e último sentido do vocábulo!

Luis C.’.
M.’.M.’., R.’.L.’. de S. João Convergência, GOL