POR QUE AS JÓIAS DEVEM SER MÓVEIS?

A Fraternidade constitui a relação existente entre irmãos, sendo que, da mesma forma, a Maçonaria constitui a grande relação entre todos os maçons.

Uma vez que relações fraternais pressupõem a inexistência de barreiras discriminatórias, é necessário que exista Igualdade para que os maçons possam ser denominados Irmãos. Portanto, sendo a Fraternidade um predicado fundamental da Maçonaria, também o é a Igualdade.

Igualdade significa não diferenciação, sendo que, sob o aspecto maçônico, significa a não-diferenciação entre os Irmãos. Considera-se, pois, que os maçons podem ser considerados iguais quando entre eles inexiste qualquer diferenciação em termos de condições de tratamento e oportunidades.

Na Maçonaria, as oportunidades apresentam-se das mais variadas formas, sendo que uma delas é a de exercer papéis ritualísticos dentro da oficina, maçonicamente denominados “Cargos em Loja”. Eis aí a importância da rotatividade dos cargos em uma Loja Maçônica, de forma a oferecer oportunidades para o exercício de todas as funções ritualísticas da oficina. Isto contribui tanto para a formação do maçom, ao oportunizar a participação efetiva nas atividades da Loja, renovando-a e favorecendo o senso de igualdade e, conseqüentemente, a formação de uma egrégora harmônica.

Uma Loja que, na medida do possível e progressivamente, dá a todos os Irmãos do quadro a oportunidade de exercer todos os cargos é efetivamente uma Loja de iguais. Logo, uma Loja de iguais é também uma Loja de homens livres, já que liberdade e igualdade são termos intrinsecamente dependentes. É impossível ser livre sem ser igual, pois a desigualdade cria barreiras intransponíveis entre os seres humanos, gerando cadeias de dependência entre eles e, conseqüentemente, cerceando-lhes a liberdade.

Assim, sabiamente, criou-se o termo “Jóias Móveis”, que faz referência ao aspecto rotativo dos cargos que governam uma Loja Maçônica. Se as Jóias são móveis, quer dizer que ninguém pode perpetuar-se no poder, o que consoa com o fato de ser a Maçonaria uma sociedade de iguais.

Isto indica que ninguém na Maçonaria pode ser governo, mas sim estar no governo, sendo que, imediatamente após o exercício de seu mandato, deve retornar à condição comum, oferecendo aos demais Irmãos a mesma oportunidade que lhe fora oferecida. Sob este aspecto, a Maçonaria não admite reeleições, embora os regulamentos das instituições nem sempre sigam este sábio desígnio da tradição iniciática, que nos ensina que aquele que despontou no Oriente como o Sol da Sabedoria, deve retornar ao Ocidente para humildemente guardar a porta do templo.

A Potência Maçônica – seja ela uma Grande Loja ou um Grande Oriente – é, no sentido exato do termo, uma grande Loja Maçônica que congrega um conjunto maior de Irmãos. Ela existe porque é inviável na prática reunir todos os Irmãos de vários Orientes e Lojas em uma só oficina. Desta forma, eles reúnem-se em várias oficinas e estas, por sua vez, congregam-se em uma Grande Loja ou Grande Oriente.

A Grande Loja ou Grande Oriente, por sua vez, também possuem suas Jóias Móveis, representadas pelos cargos de Grão-Mestre, Primeiro e Segundo Grandes Vigilantes.

Evidentemente não é possível que tais cargos sejam exercidos por todos os Irmãos da Grande Loja, tanto pelo número de Irmãos existentes, quanto pelas qualificações exigidas pelo cargo. No entanto, dado ser improvável inexistir uma quantidade razoável de Irmãos qualificados ao exercício do Grão-Mestrado e das Grandes Vigilâncias, é ainda menos admissível que haja reeleição para estes cargos.

A renovação é um fator não só importante como também fundamental para o exercício da Maçonaria. Reeleições para o exercício de cargos, independentemente de serem legalmente viáveis, não são apenas indesejáveis como também ferem os princípios de igualdade e humildade inclusos nos ensinamentos de nossa Ordem. Do contrário, corremos o risco de fazer brotar em nosso seio os despotismos contra os quais sempre lutamos.

É mister fazer da Maçonaria-instituição um reflexo mais perfeito possível da Maçonaria enquanto ordem iniciática tradicional.

Murilo Juchem,
A.’.M.’., A.’.R.’.L.’.S.’. Hermanubis nº 34, Porto Alegre – RS – Brasil.