TRABALHO A.’.M.’.O.’.R.’.C.’. – 3

Prefácio
De CAVALEIRO para CAVALEIRO

 

Estou sufocado na escuridão!!!
A fonte da Luz é à noite.
Venho a ti, que sonha mesmo acordado;
Que luta, em uma guerra eterna;
Que vive, mas deseja morrer, pois acredita que vive em uma prisão invisível;
Que duela consigo mesmo, por falta de adversário;
Que habita em dois mundos, mas vaga por várias dimensões, sempre a procura de alguma coisa, que não sabe bem o que é!!!
Escute bem:
– Se assumir uma atitude cosmorâmica em face do Universo, compreenderá o UNO do Creador e o VERSO das creaturas.
Nunca esqueça: os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento.
E que o homem intelectual não compreende as coisas do Espírito, que lhe parecem estultice, nem as pode compreender, porque as coisas do Espírito têm de ser compreendidas espiritualmente.
O Lúcifer do EGO intelectual não permite a evolução do EGO rumo ao EU, mas tenta manter o homem na horizontal do EGO; se o homem intelectual se racionalizar (espiritualizar), perderá o EGO a sua soberania ditadorial sobre a vida do homem, e terá que abdicar dela a favor de um poder superior. Mas o próprio Cristo já nos advertiu que o príncipe deste mundo, que é o poder das trevas, tem o poder sobre nós. E o próprio Lúcifer, na cena da tentação, confirma as palavras do LOGOS, dizendo: “Eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória, porque são meus”.
Lembre-se, JOVEM BUSCADOR; que o EGO é o pior inimigo do EU, mas que este é o melhor amigo daquele.
Que o Oriente te guie, e que vós trabalhe e realize com resignação.
Estou sufocado na escuridão!!!
A fonte da Luz é à noite.


INTRODUÇÃO

A filosofia nasceu no dia em que o homem se tornou um ser auto-consciente (self-conscious, selbstbewusst); ou seja, com a intelectualização (mental, espiritual) do homem.

O homem, é verdade, foi sempre um ser intelectual; mas, em tempos remotíssimos, a sua inteligência se achava ainda em estado potencial, dormente,assim como a futura planta existe,em estado embrionário, na semente.

A transição do HOMO SENTIENS para o HOMO INTELLIGENS marca o inicio da história da filosofia.

O homem pré-intelectual, meramente mineral- vegetativo- sensitivo, embora potencialmente intelectual, não é Filósofo; ou melhor, é potencialmente Filósofo, mas não atualmente.

O homem tornou-se “filósofo atual” quando nele despertou a inteligência dormente, embrionária (fenômeno esse que não se deu ao que sabe, com nenhum outro ser deste planeta).

A inteligência, como a própria palavra diz (inteligência vem de duas palavras latinas, inter [entre] e legere [ler, ou, primitivamente, apanhar, colher]; inteligência é, pois, a faculdade que lê, apanha ou percebe algo entre as coisas individuais, um nexo oculto que os sentidos orgânicos não percebem) é uma faculdade tipicamente humana. Por meio dela percebe o homem um secreto nexo ou vínculo existente entre as coisas individuais do mundo, aparentemente desconexas.

Essas coisas individuais – isto é, qualquer ser ou fenômeno do mundo circunjacente – são objetos dos sentidos, que o homem tem em comum com o mundo infra-humano. O ser dotado apenas de sentidos orgânicos não percebe senão coisas individuais, concretas, geralmente chamadas físicas ou materiais. Os sentidos só percebem a multiplicidade das coisas, mas não percebem nenhuma unidade no mundo. O homem, embora perceba também essa mesma pluralidade, objeto dos seus sentidos, concebe através dessa pluralidade periférica a unidade central do Cosmo. Percebe a unidade através da multiplicidade.

Ora, sendo que a multiplicidade é periférica e aparente, e a unidade é central e real, só um ser que percebe a unidade percebe a realidade do mundo.

O homem enxerga, pois, a realidade do mundo através das suas aparências.

Essa realidade central é chamada, muitas vezes, o NÒUMENON (da palavra grega NOUS, que quer dizer MENTE), ao passo que as aparências periféricas são chamadas FENÔMENOS (do grego phainomai, aparecer).

O nóumenon (ou númeno) é a causa dos fenômenos sendo estes os efeitos daquele.

Perceber essa unidade do universo (Universo, composto de unus [um] e versus [radical de diversos, vários] indica maravilhosamente a unidade e a diversidade do mundo. A palavra grega Kosmos [ordem] e o termo chinês Tao [caminho] têm fundamentalmente o mesmo sentido, simbolizando a unidade central latente na pluralidade periférica do mundo.) através da sua pluralidade é que é ser FILÓSOFO, isto é, PHILOS (amigo, amante) da SOPHIA (sabedoria). Quem experimenta a realidade através das aparências, o centro do mundo através das suas camadas periféricas, é um filósofo, um amigo da sabedoria, um bandeirante da realidade, um pesquisador, ou mesmo um possuidor, da verdade.

“Conheça a verdade e a verdade vos libertará” (Jesus).

Somente pela posse da verdade é que o homem adquire a verdadeira liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro (inverdade, irrealidade) é escravo. De maneira que a verdadeira filosofia torna o homem livre. A inteligência, pois, apanha ou percebe algo que existe entre os seres individuais da natureza, e que escapa à percepção meramente sensitiva.

Os sentidos percebem, a inteligência concebe – esse prefixo (com) indica uma ação em conjunto, supõe duas coisas, entre as quais existe um vínculo que as une: os sentidos não percebem senão o 1(um) e o 2 (dois), mas deixam de perceber o 3 (três), porquanto esse 3 (três), a relação ou o nexo latente, não é algum indivíduo concreto, mas é uma realidade abstrata; não é um ser físico, mas uma realidade metafísica.

Para o homem simples, sem cultura filosófica, real é sinônimo, ou até homônimo, de concreto, material, físico – ao passo que o abstrato; o imaterial quimérico. Existe mesmo uma inteira orientação na filosofia (empirismo, materialismo) que defende a tese de real é aquilo que é verificável pelos sentidos, e que tudo que não é sensitivamente verificável não é real. Será isto “filosofia” – ou apenas jardim de infância da Filosofia? Com efeito, ser inteligente é ser filósofo, potencialmente ou atualmente. Não existe um só homem que não seja pelo menos potencialmente, Filósofo.

A filosofia não é, pois como se vê, uma ciência particular, como, por exemplo, a física e a química; mas é a ciência universal, a ciência especificamente humana, a atividade humana por excelência.

Donde se segue logicamente que o homem é tanto mais “perfeito” quanto mais filósofo. E experiência de todos os verdadeiros Filósofos, de todos os tempos e países, que a intuição profunda e permanente da essencial unidade do universo da grande harmonia cósmica, confere ao homem uma tranqüilidade, serene e paz interior imperturbáveis. A percepção nítida da realidade objetiva do universo não pode deixar de se refletir na vida subjetiva do homem realmente Filósofo. O conhecimento do seu ser afeta necessariamente o seu agir, porquanto “agere sequitur esse” (o agir segue ao ser). O Homem que realmente sabe o que ele é agirá em conformidade com o seu ser. A sua ética assumirá as cores da sua metafísica, pois sabe por experiência que nada há no universo que lhe possa fazer mal, exceto ele mesmo; por que uma só é a Realidade, muitas são suas manifestações, os fenômenos.

Aquela é a Causa absoluta, eterna, universal; estes são os efeitos relativos, temporais, individuais.

A realidade não é causada, produzida, efetuada, ela é auto-existente, auto-suficiente, sem principio e sem fim.

Os fenômenos são causados, produzidos; nascem e morrem e tornam a nascer e a morrer, em uma indefinida sucessão de existir e não existir.

Não há no universo, princípios nem fins absolutos: nem no plano da realidade, que não tem principio nem fim; nem no plano dos fenômenos, que tem apenas princípios e fins relativos.

Tudo o que foi hoje, foi ontem e será amanhã. Tudo o que é, é essencialmente eterno. Nada pode começar a ser, e nada pode deixar de ser. Não há transição do ser para o não ser, como não há transição do não ser para o ser. Há apenas transição do não existir para o existir, e vice-versa.

O mundo, que é algo, não veio do nada, mais sim do Tudo. É uma diminuição do Tudo, e não um aumento do nada. Do “mais” pode vir o “menos”, mas do “zero” não pode vir o “um” ou outro número qualquer. As Leis metafísicas da lógica e da matemática são invioláveis.
(Huberto Rohden)

“No principio era o Lógos, e o Lógos estava com Deus, e o Lógos era Deus… Todas as coisas foram feitas por ele, e nada do que começou a ser foi feito sem ele. Nele estava a Vida, e a Vida era a Luz dos homens… Veio ao mundo a Luz verdadeira que ilumina a todo homem. Estava ele no mundo, o mundo foi feito por ele, mas o mundo não o conheceu. Veio ao que era seu, mas os seus não o receberam. A todos, que o receberam deu-lhe o poder de se tornarem filhos de Deus… E o Lógos se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, a glórias do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade… “Da sua plenitude todos nós temos recebido graça sobre graça”.
(João, 1, 1 ss.)

LÓGOS:
1. Faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de julgar; a inteligência.
2. Para Heráclito de Éfeso (séc. V, aC), conjunto harmônico de leis, regularidades e conexões que comandam o universo, formando uma inteligência cósmica onipresente que se plenifica no pensamento humano.
3. No Estoicismo, força criadora e mantenedora do universo, agindo como principio ativo que anima, organiza e guia a matéria, além de determinar a Lei moral, o destino e a faculdade racional dos homens.
4. No misticismo filosófico de Filon da Alexandria (séc. I, dC), no Neoplatonismo e no Gnosticismo; inteligência ativa, transformadora e ordenadora de Deus em sua ação sobre a realidade, semelhante a um instrumento de ação ou um principio intermediário entre a divindade e o universo material.
5. No Evangelho de João, o Deus criador e seu filho, Jesus Cristo, que pode ser entendido como a encarnação no mundo do poder e saber absoluto da razão divina. (denominação escolhida pelo evangelista provavelmente em decorrência da grande divulgação filosófica do termo no mundo helenístico).
6. Na filosofia patrística dos primórdios da Igreja, sabedoria divina manifestada no mundo, revelação plenamente em Cristo, e refletida palidamente na inteligência humana.

Podemos concluir que: a Filosofia nasceu com o despontar da inteligência (lógos) individual, mas atingirá a sua maturidade e plena evolução com a vitória final da razão Universal, ou seja, da Consciência Cósmica.

PITÁGORAS
Pelos meados do 6° século antes de Cristo, vivia na ilha de Samos, no Mar Egeo, um jovem cujo nome simbólico “Pitágoras”, e cujos pensamentos representavam um elo entre a Filosofia do Ocidente e as profundas concepções de Hermes do Egito. “Pítia” (pythia) ou pitonisa era o nome daquela misteriosa vidente ou profetisa que, no santuário de Delfos, da Grécia, dava os famosos oráculos da antiguidade; “goras” (em sânscrito, “guru”) é derivado de um radical que quer dizer “guiar”, “conduzir”. De maneira que “Pitágoras” significa guiado pela Pítia, ou seja, conduzido pelo espírito vidente.

Consoante a tradição, esse homem estranho, deixando a sua terra natal, impelido por um veemente heliotropismo metafísico místico, visitou os grandes centros espirituais da antiguidade, percorrendo a Fenícia, o Egito, a Babilônia, e penetrando possivelmente na Índia. Regressando, finalmente, para a Grécia, após decênios de peregrinação, foi beber a divina sabedoria em Delfos, onde seguiu para a Itália meridional, estabelecendo-se por fim, em Crotona, sobre o golfo de Tarento, a oeste do Mar Adriático. Do outro lado do golfo branquejava a cidade de Sibaris, famosa pela opulência e pela luxuria de seus habitantes, os sibalitas. Dificilmente se poderia imaginar maior contraste do que o descontrolado materialismo dos cidadãos de Sibaris e a disciplinada espiritualidade da cidade iniciatica que Pitágoras fundou numa colina de Crotona.

A principio, as estranhas doutrinas do adventício causaram estranheza. Inexplicável fascínio parecia irradiar de sua personalidade, atraindo irresistivelmente a elite da juventude masculina e feminina de Crotona. O próprio Senado da cidade inquietou-se com o crescente prestigio desse homem misterioso e dele exigiu uma explicação racional. Pitágoras atendeu sem delongas ao desafio dos poderes públicos, expondo no Senado de Crotona uma síntese da sua doutrina destinada a regular a vida humana em todos os setores da sua atividade conforme os altos ditames da Razão.

Pitágoras, não menos realista que místico, não tardou a concretizar em forma palpável as suas grandes idéias, permeando com elas a vida individual, social, política e religiosa dos seus discípulos.

A cidade (local) fundada e dirigida por esse homem enigmático, não possuía legislação civil nem policiamento de espécie alguma, era orientada unicamente por sensata e luminosa racionalidade, por uma como que mística racional, ou racionalidade mística, que não tem par nos anos da história da humanidade antes do advento do Cristo. Se fosse possível realizar em ponto grande o que Pitágoras fez em pequena escala, não tardaria o reino de Deus a ser proclamado sobre a face da Terra.

Infelizmente, as potências do mal prevaleceram fisicamente, contra essa sublime realização de um homem que tinha os pés solidamente firmados na terra e a cabeça nas luzes do céu. As paixões dos partidos políticos destruíram, mais tarde, o que o idealismo dinâmico de um grande profeta construíra. Nunca se soube do fim de Pitágoras. Alguns falam que pereceu no caos da revolução política, dizem outros que fugiu para Atenas. As suas idéias, porém sobrevivem e iluminam as almas humanas através dos séculos e milênios.

Pitágoras é conhecido na ciência como grande matemático e geômetra. O estudante de ginásio trava relações com o “teorema de Pitágoras”.

Entretanto, para o filósofo de Samos, a matemática e geometria não eram um simples conjunto de números e figuras suscetíveis de adição, subtração, multiplicação, divisão, e constelações várias. Para além desse corpo visível ou inteligível da matemática e geometria vivia a alma invisível dessa disciplina, conhecida tão somente dos homens dotados de vidência intuitiva.

Para Pitágoras, o universo inteiro, material e imaterial, é baseado na harmonia dos números. Os pares (2, 4, 6,8) e os impares (1, 3, 5, 7,9) não passam de símbolos externos de um simbolismo internos; são, em análise, os fenômenos efêmeros do eterno Númeno; rios e arroios desse oceano imenso do qual derivam inicialmente todas as coisas e para o qual voltam finalmente. Os “pares” representam os positivos, os “impares” os negativos. Aqueles são no mundo universal o que o masculino é no plano orgânico, ao passo que estes correspondem ao elemento feminino.

No centro do alvejante santuário, em forma circular, rodeado de uma colunata de mármore, que Pitágoras mandara construir no alto da colina, erguia-se a estatua de Héstia, a divindade do fogo sagrado, o rosto coberto por um véu, com a mão esquerda voltada para a terra, como que a dizer: das celestes alturas emana a Luz que as baixadas terrestres acolhem e refletem em forma de vida, beleza e felicidade.

Héstia simboliza o principio eterno de todas as coisas, o imenso oceano de Luz e Calor, a fonte das energias vitalizantes, a Causa-Prima, o Universal, o Eterno, o Todo, o Infinito, do qual todos os finitos são outras tantas manifestações.

Dispostas em vasto circulo, com o rosto voltado para Héstia, rodeavam a figura central as estatuas brancas das Nove Musas – Urânia, Polyhymnia, Melpômene, Callioppe, Clio, Euterpe, Terpsichore, Erato e Thalia – quer dizer, os principais atributos da Luz eterna, revelados nas ciências e artes da humanidade e nas maravilhas da natureza.

Héstia simbolizava o grande “UM”, o “Infinito” ao passo que as nove estátuas em derredor, os pequenos “muitos” (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,9). A Potência cósmica do eterno “UM” Atualiza-se constantemente na estupenda multiplicidade de fenômenos vários, idéia essa misteriosamente indicada por essas nove figuras em circulo homenageando o fogo central. A Unidade na Multiplicidade. Deus é UM na sua essência, porém muitos nas aparências simples em seu SER invisível, complexo em seu agir visível.

Para Pitágoras, o grande “UM” (que não se deve confundir com o n° 1) é assexual, pré-masculino e pré-feminino, é o tronco geral que precede a bifurcação dos sexos. Deus é neutro, não por falta de fecundidade masculino-feminina, mas por abundância e plenitude dessas potências sexuais. Nele não existe a polaridade ou tensão que vigora entre o ele e o ela, própria do mundo do dualismo fenomenal. Deus não é antítese, como não é síntese tão pouco; ele é a grande TESE, da qual nascem todas as antíteses e na qual culminam todas as sínteses. Ele está antes de todos os princípios e depois de todos os fins. Não é nenhum dos muitos elos da longa cadeia fenomenal, nem é a soma total desses elos, mas é aquilo que sustenta a cadeia toda e na quais todos os elos convergem.

Pode-se dizer que Pitágoras foi o primeiro gênio do pensamento ocidental que realizou em si perfeita harmonia, o sereno e espontâneo intercâmbio e interlúdio de alma, mente e corpo, arquitetando a suprema maravilha do homem em toda a sua plenitude, força e formosura. Conseguiu estabelecer o equilíbrio dinâmico entre o homem-alma, o homem-mente e o homem-corpo, sem sacrificar os interesses de um setor em prol de outro. Não foi um espiritualista obcecado, nem um austero asceta, muito menos um grosseiro materialista; foi o tipo do homem genuíno e integral. E o que ele em si mesmo criava em torno de si, entre os que o podiam compreender.

Pitágoras insiste em que ninguém pode conhecer a divindade sem ser o que ela é. A Lei do CONHECER é a Lei do SER. A completa identificação com o Infinito no plano do ser é que faculta ao homem a possibilidade de ter verdadeiro conhecimento do Infinito. Só se sabe aquilo que se é. O SER é a chave para o SABER.

Como a flor de lotos nasce nas escuras e lamacentas profundezas do lago, e daí se ergue, em delgada haste através das águas, rumo às alturas até atingir a luminosa superfície e desdobrar as suas pétalas aos beijos solares, assim principia o homem a sua jornada ascensional por entre as trevas da ignorância, e impelido pela intrínseca divindade de sua alma, dessa alma ainda dormente, ou semi-dormente, demanda as alturas através das zonas crepusculares da consciência em vários graus, até finalmente atingir a luz meridiana da plena consciência de si mesmo e do Deus imanente. Entretanto, por mais que a flor suba não se desprende do fundo do lago, une as alturas celestes com as profundidades terrestres, o meio dia com meia noite; da mesma forma não deve o homem espiritual deixar de ser desta terra, deve interessar-se por todos os departamentos correspondentes a sua tríplice natureza, deve viver intensamente no vasto cosmo espiritual da alma, no imenso oceano intelectual da mente e no mundo multicolor e multiforme do corpo material.

Pitágoras conduz os seus discípulos, praticamente, pelos estágios que ele chama:
– preparação
– purificação
– perfeição
– epifania, isto é literalmente “visão de cima”, onde habita a sabedoria.

O “silêncio pitagórico” tornou-se proverbial, desde esse tempo. É que o grande mestre recomendava à seus discípulos abster-se durante o período preparatório de toda e qualquer palavra desnecessária, como também de todo pensamento supérfluo ou incompatível com o alvo espiritual. Quem muito fala, ou muito divaga mentalmente, impede a creação de um clima interno propício para o advento da sabedoria divina. “Sê quieto, e sabe; eu sou Deus”! Este preceito bíblico está em inteira conformidade com a mentalidade de Pitágoras. Nem permitia à seus discípulos que nos primeiros anos formulassem perguntas durante as lições, porque toda pergunta é filha da obscuridade, mas essa obscuridade provém da falta de uma visão total e panorâmica do assunto. De fato ninguém pode adequadamente compreender as partes antes de compreender o Todo. Em vez de perguntar, aconselhava o mestre a seus ouvintes que refletissem e mergulhassem profundamente no sentido real do que tinham ouvido, identificando a sua vida inteiramente com aquilo, porque em ultima analise, só se sabe o que se vive e o que se é. No fim de certo período de intensa e diuturna meditação, as duvidas iniciais se dissipam por si mesmas na razão direta da expansão dos horizontes internos.

Afirma Aristóteles que Pitágoras ensinava que a Terra girava ao redor do sol, o “fogo central” do nosso sistema, recebendo claridade desse fogo, assim como todos os seres que não possuem luz própria recebem a luz de um ser autoluminoso.

Ensinava aos iniciantes do 3° Grau que a Terra tinha um movimento duplo, o da rotação sobre seu próprio eixo, e o da revolução através do sol. Como os sacerdotes de Menfis, no Egito, sabiam também o sábio de Samos que os planetas eram filhos do sol e giravam em torno dele, que os astros eram outros tantos sóis e sistemas solares, regidos pelas mesmas Leis que preside ao nosso sistema. Entretanto, nenhuns desses conhecimentos eram confiados aos exotéricos, que não estavam em condições de aceita-los; eram velados tão somente aos esotéricos, para os quais tudo isto era natural e compreensível.

O ternário é o n° da geração. A unidade é o pai; o binário, a mãe e o ternário, o filho. Um é Osíris; dois, Isis; três, Hórus. Um é o ser; dois, o movimento; três, a vida. Um, o espírito; dois, o pensamento; três, o verbo. UM é a pedra cúbica ou o altar; dois as duas colunas sagradas; três, o frontão que une as duas colunas: eis aí o Templo primitivo.

O nome de Deus é completo em três letras, pois a quarta repete a segunda. Três também representam à plenitude da ciência maçônica: L:. D:. P:. Três letras resumem a ciência de Salomão.

L:. D:. P:. significa para os profanos: Liberdade de passar. Coloca-se esta inscrição sobre um ponto simbólico, que serve de comunicação entre a Terra do Exílio e a Pátria. Para os iniciados dos graus mais elevados, é: Aleph, Mem, Thau compõem uma palavra que lê Ameth, e significa: A verdade e a paz.

O ternário é a luz manifestada em sua plenitude. É o brilhante Schechinah dos cabalistas: “Ele, o Eloim, ele disse: que a luz seja e a luz foi”. E aqui o ternário faz pressentir o pentagrama: Ele, 1; o Eloim, 2; ele disse, 3; que a luz seja, 4; e a luz foi, 5. Aqui, o ternário é, positivamente, a ação do verbo. (IN IPSO VITA ERAT ET VITA ERAT LUX HOMINUM ET IN TENEBRIS LUCET – Nele estava à vida, e a vida era a luz dos homens e a luz resplandece nas trevas – João 1,4-5). Note aqui, que o começo do Evangelho segundo São João explica a gênese da luz expressada pela palavra de Moisés. (IN PRINCIPIO, 1, ELE! ELE “ERAT VERBUM ET VERBUM ERAT APUD DEUM ET DEUS ERAT VERBUM – No principio era o verbo e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus – João 1,1) Eis os Eloim 2, a vida estava nele 3, e a vida era a luz dos homens 4, e a luz brilhou nas trevas 5, Eis a estrela flamejante. Eis o Ser-verdade-razão-justiça.

Eis o pentagrama do absoluto. Desse modo, o ternário produz o número 5 acrescentando um ao duplo binário. A reciprocidade da ação no binário dá 4, principio alternativamente ativo e passivo. A análise das forças dá 4; síntese, que equilibra, dá 2; o ponto central do equilíbrio dá 3, e assim compreendemos o animal hieroglífico, que pela manhã tem 4 pés, ao meio-dia 2 e à noite, 3. Adiciona a isso os pés de todas as horas, e terá o número 9, que é o ternário multiplicado por ele mesmo.

A figura do número 3 em algarismos arábicos é realmente maravilhosa quando a estudamos sobre o pentáculo de Tebas.

É o diâmetro horizontal; por conseqüência, o principio gerador passivo da idéia unida à circunferência da norma pelo compasso do absoluto. Não se esqueça de que o circulo superior representa a idéia, ou o Céu; que o circulo inferior representa a forma, ou o mundo; e que os diâmetros do grande circulo, cruzando-se, resultam no esquadro e no compasso, isto é, no equilíbrio universal e na hierarquia das proporções.

Temos o enigma da Esfinge e o plano de Tebas. A Esfinge é decifrada, Tebas está aberta.

O ternário divino, expresso pelas três primeiras letras do tetragrama significa pai-mãe-amor. O pai é chamado de Abba pelos cabalistas. A mãe é chamada de Imma; o amor não tem nome, é inefável, mas costuma ser simbolizado pelo sopro sagrado a que se dá o nome de Ruach-Elohim.

Na Cabala cristã primitiva o filho foi substituído pela mãe, no intuito de afastar da idéia divina tudo o que lembre o subjetivo e o passivo. Com efeito, considerado como providência ou como mãe, Deus sempre é ativo. Nele, diz o Zohar, não existe lado esquerdo; todas as idéias evocadas pela mulher, à parte suas ternuras de mãe, devem ser afastadas da concepção de Deus. Aliás, aqui a carne não é nada: tudo é espírito e verdade. O pensamento divino fecunda seu verbo e esse verbo é seu filho co-eterno e co-substancial. O amor que os une é o Ruach-Elohim dos cabalistas; é o Espírito Santo dos cristãos. Aliás, em Deus tudo é absolutamente um. Ele não admite nem quantidade, nem tempo, nem número. As pessoas ou hipóstases divinas são Sephiroth, isto é, noções divinas. Por isso é que o nome de Jehovah só está escrito no segundo céu, o dos conhecimentos humanos, ou de Jesirah. Em Aziluth, Deus não tem nome e é designado apenas por esta palavra: eieie, ele é.

Agora podemos ver todos os nossos meio-sábios e teólogos de escola dando tratos à bola para saber como 3 não é mais do que um, e como, em cada um de três, encontram-se e existe realmente os outros três; o que é chamado de circum-incessão das pessoas divinas, o que daria, se preciso, nove pessoas em lugar de três; de fato, na Cabala existem nove Sephiroth que representam três vezes as três noções perfeitas da unidade. Tudo isso não passa de absurdos e de trevas para a ignorância racional, mas é a luz mais doce e a mais simples das concepções para a verdadeira fé.
 

VENI SANCTE SPIRITUS
ET EMITTE COELITUS
LUCIS TUOE RADIUM!
VEM, SAGRADO ESPÍRITO
E ENVIA-NOS DO ALTO DO CÉU
UM RAIO DE TUA LUZ!
 
DA TUIS FIDELIBUS
IN TE CONFIDENTIBUS
SACRUM SEPTENARIUM!
DÁ A TEUS FIÉIS
QUE EM TI CONFIAM
OS SETE DONS DE TUA GLÓRIA!
 
DA SALUTIS EXISTUM,
DA LABORIS MERITUM,
DA PERENNE GAUDIUM.
DÁ A SALVAÇÃO DA EXISTÊNCIA,
O MERECIMENTO DO TRABALHO,
A ALEGRIA PERENE.

À HERMES TRISMEGISTO, à todo povo Cigano, CLÃ CIGANO DO ORIENTE, que em um passado não muito distante, quando até eu duvidei de mim, me deram a mão, me educaram e me ensinaram a crer que ninguém pode me fazer mal a não ser eu mesmo, pois sou o Senhor da minha vida, mas devido a minha ignorância encontro-me momentaneamente escravo. E que toda causa tem um efeito; todo efeito tem uma causa; todas as coisas acontecem de acordo com a Lei; o acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à Lei.

Obrigado!!!

Aproveito para agradecer também a toda AGREGOLA ROSA-CRUZ e a todos os organismos que mantém vivo os preceitos TEMPLÁRIOS; e os Salutem Punctis Trianguli!!!
Agora que já me anunciei, irei contemplar o silêncio de meu sarcófago sagrado e só me pronunciarei quando solicitado.

Que assim seja!!!

Com os melhores votos de Paz Profunda, sincera e fraternamente.


Júlio Cesar Lobato, C
.’.M.’.
Ordem Rosacruz – Brasil